sexta-feira, 17 de julho de 2009

O Mundo como idéia - Bruno Tolentino

Se você define um futuro que vê como ideal
e para o qual quer tender,
isso vai tornar o seu presente muito
complicado porque, para chegar até lá,
precisará lidar com todas as confusões do
dia de hoje que não se ajustam
a essa idéia de futuro que criou.
Por isso, o seu presente será muito conflituoso;
no entanto, conseguimos viver em meio
a conflitos, é próprio do ser humano
enfrentar os paradoxos do dia-a-dia.

O pior não é que essa idéia o impede de viver
as coisas como são, mas que o obriga
a destruir seu passado.
Para poder manter essa visão de presente
que você anuncia em nome do futuro,
tudo o que foi precisa tornar-se suspeito.
Passa a ser sua missão destruir as possibilidades
de contar com esse passado como ajuda.
Ora, todos nós temos um passado,
uma memória, alguma coisa de que nos
lembramos bem;
um tesouro qualquer de que não queremos
abrir mão com tanta facilidade.
Mas será necessário jogar tudo isso fora
para ter um presente "limpo" em
nome do futuro,
ou da idéia de um futuro que vem por aí.

Você joga fora o passado e passa a viver
num presente que é um deserto,
em nome dessa idéia de futuro que,
quase com certeza, não chegará nunca.
E essa promessa que você tem é uma coisa
extremamente adaptável:
pode chamá-la de niilismo ou do que quiser,
mas o fato é que ela trará consigo um ódio
a tudo o que existe.
"Ah, mas isso são velharias",
"Ah, mas isso é de ontem",
"Ah, mas isso não se usa mais",
é o que mais se ouve hoje em dia.
Esse drama é o que eu chamo
do mundo-como-Idéia:
você não pode mais ter um presente,
um passado e um futuro,
só pode ter aquilo que fizer agora:
é uma idolatria, é uma apostasia
e é uma pirraça com a vida.

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