sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Deus falou por esses dias nas telas de Hollywood
por meio de Jim Carrey e Morgan Freeman.
O "Todo-Poderoso" é a história de um homem
que reclama de Deus o tempo todo,
acreditando que seus infortúnios são provocados,
quer pela atividade quer pela omissão
do Todo-Poderoso.
No ápice de sua angústia, Bruce decide jogar
na cara de Deus todos os impropérios
que muitos de nós gostaríamos de falar
mas não temos coragem.
A surpresa é que Deus aceita o desafio
da forma mais surpreendente:
deixa Bruce "ser Deus" por uma semana.

Ao delegar todos os seus poderes, Deus
estabelece duas regras:
não diga a ninguém que você é Deus
e não interfira no livre-arbítrio.
Depois de muita confusão, chega-se
ao coração do filme.
Bruce pergunta para Deus:
"Como posso fazer com que as pessoas
me amem sem interferir em seu livre-arbítrio?",
ao que Deus reage dizendo que está
procurando essa resposta há séculos.

O resumo da ópera é que amor é abnegação.
Amar é dar permissão para ser ignorado.
Amar é estar disposto a morrer, pelo menos
ser como um morto - um ausente,
não existente - para aquele que se ama.
Indo mais longe, amar é abrir mão de tudo,
inclusive de si mesmo.
O Diabo quer expandir-se e engolir tudo
para tudo chamar de "eu".
Deus quer esvaziar-se.
Nós estamos entre estes dois arquétipos:
existir em favor do outro, numa parceria
de amor ou existir em função do eu,
numa guerra tirânica entre egos.

- Espere um pouco - você diria.
- Agora você colocou Deus e o Diabo
no mesmo patamar.
Nada disso. Deus continua sendo Todo-Poderoso.
Deus continua sendo o padrão ao qual todo
o Universo, especialmente você, deve se
conformar, sob pena de cair num niilismo
sem saída, num caos ainda mais grotesco do
que o em que já nos encontramos.
Lembre-se de que estamos em busca de
sentido e de significado para
a existência humana.
Pois então não se esqueça de que fomos
criados à imago Dei, feitos para viver
em uma unidade plural, em uma fraternidade
solidária, abnegada e altruísta.
Não fomos feitos para engolir egos de maneira
a tornar nosso ego o maior de todos.
Fomos feitos para conviver e, para isso,
precisamos dar espaço para o outro.
Na verdade, devemos admitir que somente
encontraremos nossa identidade mais
profunda e nossa realização mais plena
quanto mais espaço dermos para que
outros existam conosco e quanto
mais estivermos dispostos
a existir com outros.

(pgs. 172-173)

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