domingo, 3 de julho de 2011

A visão de um anjo de costas - Ângelo Monteiro


Não é por mero protesto
nossos cabelos nos ombros:
somos bem pouco terrestres,
somos mais venusianos. 

Escondem asas secretas
estes cabelos que usamos:
como todos os estetas
as coisas prefiguramos.

De modo que as imagens
das vossas alegorias
são bem pouco, comparadas
com a nossa telepatia 

e o nosso poder de usar
só as palavras supremas:
não somente as necessárias,
mas aquelas que o homem teme. 

O resto comunicamos
por meio dos nossos olhos:
em nós, poços de energia,
em vós, poças de silêncio. 

Nem contempleis nossos ombros:
cabelos vertiginosos
e tênues, como os abismos,
perturbarão vosso sono.

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