segunda-feira, 23 de março de 2009

A criação do mundo - Maria do Rosário

Olhou as mãos em concha e viu arredondar-se
um sonho dentro delas - um mundo
que ninguém podia adivinhar, pois dele
fariam também parte os magos e os profetas.

Abriu-as devagar e deixou cair as trevas como sementes,
para que então servissem unicamente de sombras
e prolongassem a memória das coisas por vir. Foi assim
que inventou a luz e separou um dia do seguinte.

Depois afastou o céu daquilo que viria a ser o mar,
como quem divide um lenço azul em dois e limpa
as lágrimas apenas a metade. No meio, deixou que
crescesse tudo quanto do chão quisesse escapar-se
para traçar a primeira geografia dos caminhos. E assim

descobriu a cor e encheu a sua paleta de animais
que rasgariam os céus, cruzariam os oceanos e
revolveriam as entranhas da terra na estação
das chuvas. Por fim, semeou pequenas clareiras

nas florestas, pedras nas vertentes das cordilheiras,
cristais de neve no contorno dos lagos, estrelas cadentes
na vizinhança do desespero e rios serpenteantes
entre as searas louras, mordidas por um sol que lhe caiu
quase sem querer dos dedos, mas lhe aproveitou o calor.

E, apesar da alegria que experimentou, sentiu que o seu
mundo era tão frágil que, se desviasse os olhos, tudo
acabaria por regressar ao pó, às trevas e ao verbo.
Só por isso criou alguém que também o visse e lhe
dissesse todos os dias como era belo.

Maria do Rosário é uma poetisa portuguesa.
Lançou o livro
"O canto do vento nos ciprestes"

pela editora "Escrituras".

terça-feira, 17 de março de 2009

Vai poeta,
Corre entre as estrelas
E traz pra gente
Que não consegue
Voar tão
Alto
O Sangue,
O Santo,
A Luz!
Vem Jesus,
poeta dos poetas,
Santo dos Santos,
Luz que não tem sombra,
Estrela D'Alva,
Meta deste longo caminho
Que trilho,
Vem trazer uma pedrinha branca
Com o nosso novo nome!
Vem brilhar
Em nossos corações
Qual quasar
Em explosão estonteante
Vem espalhar
Esta Luz
Em toda a Terra.
Nos ensina novamente
a respeitá-la
e amá-la
Como nossa mãe.
Vem acalmar
O vento forte desta tempestade
Que se abate
Em todos os que te seguem
Nos chama
Pra andar sobre o mar
E não permitas
Que olhemos para as altas ondas
E sim para ti
Ó Mestre,
Ó razão da minha vida!
Te amo, te amo, te amo...

Carlos Maia

17/03/09