quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Ainda hei de fazer uma canção
De amor pra ti Recife,
Recife, dos rios dourados pelas
Luzes da noite.
Recife, dos flamboyants e das acácias.
Recife, das auroras em Boa Viagem
Após porres homéricos na Rua da Moeda.
Recife, das putas adolescentes
Da Cons. Aguiar.
Recife, dos pedintes nos sinais
Recife, dos pôr-dos-sóis no Capibaribe.
Recife, de tanta miséria
Recife, de tanto prazer
Recife, das pontes inumeráveis
Recife, dos poetas espoliados.

Carlos Maia
Agosto/2001

terça-feira, 26 de agosto de 2008

Não temas, ó terra,
Regozija-te e alegra-te;
porque o Senhor faz grandes coisas.
Não temais, animais do campo,
porque o arvoredo dará o seu fruto,
a figueira e a vide produzirão com vigor.
Alegrai-vos, pois, filhos de Sião,
regozijai-vos no Senhor vosso Deus,
porque Ele vos dará em justa medida
a chuva; fará descer, como outrora,
a chuva temporã e a serôdia.
As eiras se encherão de trigo, e os
lagares transbordarão de vinho
e de óleo.
Restituir-vos-ei os anos que foram
consumidos pelo gafanhoto migrador,
pelo destruidor e pelo cortador,
o meu grande exército que enviei
contra vós outros.
Comereis abundantemente e vos
fartareis, e louvareis o nome do Senhor
vosso Deus, que se houve
maravilhosamente convosco; e o meu
povo jamais será envergonhado.
Sabereis que estou no meio de Israel,
e que eu sou o Senhor vosso Deus,
e não há outro; e o meu povo
jamais será envergonhado.
E acontecerá depois que derramarei
o meu Espírito sobre toda a carne;
vossos filhos e vossas filhas
profetizarão,
vossos velhos sonharão,
e vossos jovens
terão visões.

(Joel 2:21-28)

domingo, 24 de agosto de 2008

Quero Ser Tambor

Tambor está velho de gritar Oh velho Deus dos homens deixa-me ser tambor corpo e alma só tambor gritando na noite quente dos trópicos.

Nem flor nascida no mato do desespero Nem rio correndo para o mar do desespero Nem zagaia temperada no lume vivo do desespero Nem mesmo poesia forjada na dor rubra do desespero.

Nem nada!

Só tambor velho de gritar na lua cheia da minha terra Só tambor de pele curtida ao sol da minha terra Só tambor cavado nos troncos duros da minha terra.

Eu
Só tambor rebentando o silêncio amargo da Mafalala
Só tambor velho de sentar no batuque da minha terra
Só tambor perdido na escuridão da noite perdida.

Oh velho Deus dos homens
eu quero ser tambor
e nem rio
e nem flor
e nem zagaia por enquanto
e nem mesmo poesia.
Só tambor ecoando como a canção da força da vida
Só tambor noite e dia
dia e noite só tambor
até a consumação da grande festa do batuque!
Oh velho Deus dos homens
deixa-me ser tambor
só tambor!

José Craveirinha

Poeta moçambicano.

Mafalala: Bairro da capital de Moçambique.
Zagaia: Lança curta de arremesso.
Já fui andorinha, pardal,
Falcão, gaivota e águia.
Já fui Cipreste no sul
Do Líbano.
Coqueiro
Em Arraial-da-Ajuda,
Hoje eu sou um homem
Voando em espantosa velocidade
Pelos confins do Universo
Sou um Pássaro,
Sou um homem,
Sou tantos e ao mesmo tempo
Nenhum.
Em que banco
De ônibus
Ficou perdida
A minha identidade?

Carlos Maia.

Janeiro/99.

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

E aqui estamos reunidos
Nesta noite
Sem portais,
Os umbrais do tempo ecoam
No mais longínquo do nosso ser.
Eis tempo, eis templo,
Eu diante de ti
A minha alma acaricia
A luz do espectro
Desta vela,
E ela lança um caleidoscópio
De cores
Em nossas almas;
Vem, vem comigo
Nesta estrada de terra
Sentir a poeira varrer as nossas almas;
Vem andar pelos trigais
Qual Van Gogh em noite
Raio de luz,
E neste templo dos iniciados
O que se escuta
É o crepitar da chama,
É o crepitar da chama...

Carlos Maia
1987

Erickson, Erickson...
Como eu poderei chegar agora
No mercado da Boa Vista
E não haver mais a possibilidade
Da tua presença lá...
Ou na segunda sem lei
No Burburinho
Ou nas ruas de Recife
Nas noitadas intermináveis...
Ouço o canto do Capibaribe,
Um canto
Triste e silente...
Não ouvirei mais
A tua lucidez, amigo,
Embriagado pela vida!
A única coisa que eu
Desejo agora
É a morte
Para poder aplacar
A minha dor
Mas,
Não tenho pressa...

Carlos Maia
07/08/07

terça-feira, 19 de agosto de 2008

Eu queria saber desenhar
Pra poder dizer tudo
Que vai dentro de mim.
Esse grito contido,
Essa espera,
São frutos de um mesmo
Sentimento.
Sentir Deus em toda sua
Pureza, perfeição e glória.
Ter uma pequena idéia
Do seu reino
Através das estátuas
De sol em
Uma onda que se quebra
Num mar agitado e tenso...
E de uma aurora
Que se descortina
Em mil cores vivas
Esvoaçando e abrindo
Sua mente em paz.
A paz de uma onda
Que se quebra
Contra o vento e deixa
Uma névoa de música
No seu rastro,
Branca e pura como
A areia ainda intocada;
A paz
De um dia novo que
Começa no coração
Da gente;
Como um sentimento
De uma gaivota
Planando num mar
Límpido e cristalino.
E toda a força
Da chuva
Lavando nossas almas
À beira-mar...
E sentir que tão poucos
Sentem isso.

Carlos Maia
Junho/81.

sábado, 16 de agosto de 2008

De onde emerges
Tempo,
Nos subterrâneos de minha mente?
Entre...
Veja as espirais de fumaça
Invadindo castelos medievais...
De onde emerges, tempo?
De que dourado
Teceste
Os fios da memória?
Em que nebulosa
Se esconde
Tamanho medo?
As garras do girassol
Explodirão esta bolha!
Olha...
A menina desce as ladeiras
De Olinda,
Sentindo subir nos cabelos
O vento das recordações
Das ruínas...

Carlos Maia
Julho/85

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Eu encontrei
Num copo de cerveja
Uma bactéria leprosa,
Muito beba e
Muito prosa,
Foi aí que eu descobri
O protoplasma de plástico
E então eu perguntei:
O que é que meu
Pé tem a ver com
Minha mãe?

Carlos Maia
Julho/78