quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Deus no Mundo.

Quando eu morrer, verei o avesso do mundo.
O outro lado, além do pássaro, da montanha, do poente.
O significado verdadeiro, pronto para ser decodificado.
O que nunca fez sentido, fará sentido,
O que era incompreensível, será compreendido.
- Mas, e se o mundo não tiver avesso?
Se o sabiá na palmeira não for um signo,
Mas apenas um sabiá na palmeira? Se a
Sequência de noites e dias não fizer sentido
E nessa Terra não houver nada, apenas terra?
- Mesmo se assim for, restará uma palavra
Despertada por lábios agonizantes,
Mensageira incansável que corre e corta
Campos interestelares, corta galáxias que giram,
E clama, reclama, grita.

Czeslaw Milosz
Poeta polonês - Nobel de Literatura

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Quando entrou em Caruaru
A estátua de Davi
Se desfez em Jerusalém.

Carlos Maia
21/08/09

Dedico à Ana Blue.

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Novas Poesias Inéditas - Alberto Caeiro.

Não sei quantas almas tenho
Cada momento mudei
Continuamente me estranho
Nunca me vi nem acabei
De tanto ser, só tenho alma
Quem tem alma não tem calma

Quem vê é só o que vê,
Quem sente não é quem é,

Atento ao que sou e vejo,
Torno-me eles e não eu.
Cada meu sonho ou desejo
É do que nasce e não meu.
Sou minha própria paisagem;
Assisto à minha passagem,
Diverso, móbil e só,
Não sei sentir-me onde estou.

Por isso, alheio, vou lendo
Como páginas, meu ser.
O que segue não prevendo,
O que passou a esquecer.
Noto à margem do que li
O que julguei que senti.
Releio e digo: "Fui eu?"
Deus sabe, porque o escreveu.

Este poema eu dedico
A Gilmara Pires,
que está no Rio de Janeiro.

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

A Palavra Certa - Ana Talita.

Se para cada momento achássemos a palavra certa
Se para cada segundo fôssemos a própria palavra,
pois a cada pensamento uma palavra pode ser reciclada
e influenciará a todo resto do contexto, a todo passo...
A palavra pode ser chave ou ser presa!
pode ser arma mas, talvez não acertada...
Se as pessoas soubessem quantos
quilos valem uma palavra...??!
(palavra que prende)
E aquela que diz mesmo sem dizer?!
Talvez eu seja mais os sinais do que a
própria palavra dita!!
(.?:;...)

(sinal, o gesto, que sinto)

(PARE, PENSE, SIGA...)

Ana Talita -
cantora, poeta e ainda "marginal":)!)

domingo, 9 de agosto de 2009

Extrapolei todos os limites
Rompi o canto das sereias
Nas madrugadas insanas
De Olinda.

Carlos Maia
08/08/09.

sábado, 8 de agosto de 2009

Comunicação nos relacionamentos afetivos.

De longe este é o pilar do relacionamento longo
e próspero. Inclusive é um assunto senso comum,
pois todos sabem que isso é importante.

Mas é difícil gerar essa comunicação.
Tem coisas que precisam ser verbalizadas,
outras que só precisam ser sentidas
e que nos paradigmas aos quais opero é uma
forma de comunicação também.

Como é difícil falar: "eu gosto de você",
"eu quero ficar contigo", "quero não fazer
nada do seu lado só para ficar juntinho".
O que será que passa nas nossas cabeças nessas
horas para que articular isso seja tão complicado,
algo que a priori deveria ser tão simples.

Eu sou treinado para falar para 1 ou 1.000.000 de
pessoas. Sinto-me plenamente a vontade de
discursar em público e não sinto ansiedade.
Às vezes um tiquinho de nada que se
dissolve assim que pego o microfone.

Contudo, tremo nas bases, me falta a palavra certa,
o momento certo e a coragem para falar algo simples e
verdadeiro para alguém que realmente importa.

POR QUE?

Ainda me é nebuloso o real motivo.
O caminho fácil é dizer: medo, insegurança, dor de
barriga, unha encravada... Por mais que todos esses
motivos possam ser verdadeiros eles são só
reflexo de algo que eu ainda não entendi.

Reações emocionais são fruto da nossa inabilidade de
lidar com aquilo que está acontecendo. Assim como eu
ficaria muito ansioso se não tivesse sido
treinado para falar em público.

A pergunta que cabe é:

O QUE EU AINDA NÃO SEI?

Eu não sei se vai dar certo, eu não sei se vou saber
falar o que precisa ser dito, eu não sei se vou
conseguir falar da forma que deve ser dita,
eu não sei como alguém consegue comer
pizza doce...
er... enfim...

Como não tenho respostas então a solução é...

DEFINIR O QUE DESEJO

Eu quero que dê certo, eu quero poder compartilhar
a vida, eu quero... (fala a verdade te deixei
curioso com a reticência?)

Quando vou falar em público eu sei para quem,
qual é o começo o meio e o fim da conversa
a tal ponto que para o espectador pareça que foi
informal, que foi de improviso.
Mas nunca é.

Eu já sei o propósito. O ponto no horizonte.
Agora só falta ensaiar o começo e por onde eu irei
passar para então chegar.

Aissm cmoo nsoso créerbo csgoneue ler etsa fsrae
ebhlamarada, só tdneo no laugr a pierimra e a
úlmita ltera, nós tébmam só piarmecsos sbaer o
pnoto de pdratia e o fainl, pios o mieo
pdoe ser uma bgaçnua didervtia.

Marco Carvalho.

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Do livro "A Caverna" - José Saramago (trecho).

Autoritárias, paralisadoras, circulares, às vezes elípticas,
as frases de efeito, também jocosamente denominadas
de pedacinhos de ouro, são uma praga maligna,
das piores que têm assolado o mundo.
Dizemos aos confusos,
Conhece-te a ti mesmo, como se conhecer-se
a si mesmo não fosse a quinta e mais dificultosa
operação das aritméticas humanas,
dizemos aos abúlicos, Querer é poder, como se as
realidades bestiais do mundo não se divertissem
a inverter todos os dias a posição relativa dos
verbos, dizemos aos indecisos, Começar pelo
princípio, como se esse princípio fosse a ponta
sempre visível de um fio mal enrolado que
bastasse puxar e ir puxando até chegarmos
à outra ponta, a do fim, e como se, entre a
primeira e a segunda, tivéssemos tido nas
mãos uma linha lisa e contínua em que não
havia sido preciso desfazer nós nem
desenredar estrangulamentos, coisa
impossível de acontecer na vida dos novelos
e, se uma outra frase de efeito é permitida,
nos novelos da vida.

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Barulho - Osho.

A vida é barulhenta, e o mundo está muito
populoso. Mas lutar contra o barulho não é a
maneira de se livrar dele; a maneira de se
livrar dele é aceitá-lo totalmente.

Quanto mais você lutar, mais nervoso ficará,
porque, quanto mais você lutar,
mais ele o pertubará.
Abra-se e aceite-o; o barulho também é parte
da vida. E, quando você começar a aceitá-lo,
ficará surpreso: ele não o pertubará mais.
A pertubação não vem do barulho, ela vem
de nossa atitude em relação a ele.
O barulho não é a pertubação, a atitude
é a pertubação.
Se você for antagonista a ele, ficará
pertubado; se você não for antagonista a ele,
não ficará pertubado.

E aonde você irá?
Aonde você for, algum tipo de barulho
fatalmente estará presente; o mundo inteiro
é barulhento. Mesmo que você possa encontrar
uma caverna no Himalaia e ficar lá, você perderá
a vida. O barulho não estará presente, mas todas
as possibilidades de crescimento que a vida torna
disponíveis também não estarão presentes, e logo
o silêncio parecerá monótono e morto.

Não estou dizendo para não desfrutar o silêncio.
Desfrute-o, mas saiba que o silêncio não é
contra o barulho. O silêncio pode existir no
barulho. Na verdade, quando ele existe no
barulho, somente então ele é o silêncio real.
O silêncio que você sente no Himalaia não é o
seu silêncio; ele pertence ao Himalaia.
Mas, se você puder sentir o silêncio no mercado
ou na feira, poderá ficar completamente
tranquilo e relaxado, ele é seu.
Então você tem o Himalaia em seu coração,
e isso é o que importa!

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

A Francisco Espinhara.

A vida vencerá, Chico
Tantas vezes desejando a morte
Tantas vezes sem sentido
Desbragadamente desprendido
De tudo!
Pulando da ponte
Dormindo com as putas
Se afogando
Na maconha e no álcool
Para mitigar um pouco
A dor
De não compreender
Tanta miséria e desigualdade
Dançando ao som do maracatu
Em Rainha,
A vida vencerá, Chico
A vida sempre vencerá!
Mesmo que um dia morramos.

Carlos Maia
20/09/06.

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Xande está aprendendo abraços.
O menino esquivo, que sonha ter uma
arma e chuta cadeiras e gentes, já se deixa beijar.
E chega junto, como quem não quer nada,
a alma sedenta de carinho.

Xande está aprendendo leituras.
O menino que juntava letras sem percebê-las,
que olhava os desenhos dos livros,
ansioso por compreender o que insinuavam,
está aprendendo que pode aprender.

Xande está aprendendo a ser.
O menino à deriva,
o menino náufrago de sua própria realidade
está aprendendo a remar.
Está aprendendo a acreditar em si mesmo.

E, quando eu o vejo assim,
aprendendo,
eu também reaprendo a esperança.
E ela tem a cor da felicidade.

Publicado no blog:
http://palavraspontes.blogspot.com

domingo, 2 de agosto de 2009

Poeta, poeta, onde estão indo
dar os teus caminhos?
Onde deixastes o prumo, a régua, o passo?
Poeta, poeta, que ânsia de vida é essa?
Que poço insondável é esse que consome
o teu coração?
Risca uma nova porta, traça uma nova estrada,
Soergue o prumo das entranhas da terra,
Retoma a tua vida!
Enfrenta o minotauro
nos labirintos
do teu coração!

Carlos Maia
30/07/2004

Albert Camus - O Exílio e o Reino.

- Se me acontecer alguma coisa, você ficará amparada.
Disse Marcel a Janine.
E, de fato, é preciso garantir-se contra a necessidade.
Mas, do resto, do que não representa
a necessidade mais simples,
onde se amparar?

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