sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Do livro "A Caverna" - José Saramago (trecho).

Autoritárias, paralisadoras, circulares, às vezes elípticas,
as frases de efeito, também jocosamente denominadas
de pedacinhos de ouro, são uma praga maligna,
das piores que têm assolado o mundo.
Dizemos aos confusos,
Conhece-te a ti mesmo, como se conhecer-se
a si mesmo não fosse a quinta e mais dificultosa
operação das aritméticas humanas,
dizemos aos abúlicos, Querer é poder, como se as
realidades bestiais do mundo não se divertissem
a inverter todos os dias a posição relativa dos
verbos, dizemos aos indecisos, Começar pelo
princípio, como se esse princípio fosse a ponta
sempre visível de um fio mal enrolado que
bastasse puxar e ir puxando até chegarmos
à outra ponta, a do fim, e como se, entre a
primeira e a segunda, tivéssemos tido nas
mãos uma linha lisa e contínua em que não
havia sido preciso desfazer nós nem
desenredar estrangulamentos, coisa
impossível de acontecer na vida dos novelos
e, se uma outra frase de efeito é permitida,
nos novelos da vida.

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