quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Assim na Terra como nos Quintais - Luciana Cavalcanti.


era bem ali
o alto-mar e, nós, piratas temidos.
era bem ali
a floresta encantada e, nós, índios
sabedores de magia.

era ali também
biblioteca das imaginações
onde compunhamos histórias sem escrita.

ali, o Mundo-inteiro e o seu fim...
apocalipses sem-medo, com heróis
salvando a Humanidade
e viajando rumo à Marte.

ali, enterramos solenes o papagaio de Vovó
- aquele papagaio chato, gasgito, matraca...
que me chamava "Boneca-de-feira"!!!

ali, o incrível resgate do peru de Natal.
ali, as fugas de um galo brabo, de nome francês... Pierre!

era bem ali
que se cresciam as sementes de nossas infâncias.
e é ali, bem ali,
que plantamos sementes de sonhos feitos filhos,
netos de nossos pais,
bisnetos de nosso avô,
pais de nós...
- Paz a nós! assim na Terra como nos quintais!

Yoga - Caminho para Deus: Hermógenes.

Confiar-se a Deus só pode ser conveniente.
Ele é Onisciente, portanto sabe o melhor para nós.
É Onipotente, portanto nada lhe é impossível.
Entregar-nos a Deus é alívio, é paz, é remédio, é solução.

Entregar-se a Deus - viveka, alerta - pode conduzir-nos
à abdicação covarde diante do dever, do que temos de
fazer, de nosso dharma. Cada ser humano tem um papel
a cumprir. É responsável por ele. Tem de prestar contas
se falhar ou negligenciar. O yoguin não regateia esforços,
ações, palavras... Tudo que pode ele faz, mas não se
pertuba se os resultados de seu agir não correspondem.
A ação, ele reconhece, é obrigação sua. Os frutos da ação
pertencem a Deus.

No seu dia a dia, o yoguin está aberto ao que vier do
Senhor. Quando deseja algo, trata de ser de acordo
com o plano de Deus.

O yoguin tem fé absoluta na sabedoria e na justiça
dos desígnios de Deus. Ele sabe que Deus nos dá
na medida em que merecemos e na medida em que
precisamos. Sua justiça e sabedoria, digamos sua
benignidade, podem vir na forma de um tormento
que, aos "olhos que não veem", parece
até maldade Sua.

Aos que choram abandono, ingratidão, preterição,
traição, desastre, falência, doença, queda... os
Mestres receitam o mágico remédio que é a
humildade e sábia aceitação. Ensinam a dizer:
"Entrego-me a Deus, haja o que houver, e assim,
encontro a Paz".

(pg. 102)

quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Desejos de Janeiro - Luciana Cavalcanti.


Saiba um amor que te sinta,

mergulhe por sede da pele,

delire em canção que não minta...

E feche os olhos,

e abra o peito,

encontre o mar.



Encontre o caminho de casa,

da casa invisível,

onde morarão teus sonhos,

onde moras já (sem saber).

Queira o amor,

dilate o querer,

dilate os dias,

comendo as horas sem pressa,

como fruta boa em dia de mar.



Saiba saber do desejo,

não se esquive (nunca!) ao bom do beijo

- nem se furte ao beijo roubado!

Sinta o amor do cuidado,

saiba das harmonias do silêncio

e cante. E dance. E seja...



Feche bem os olhos, se veja.

Ajuda, no escuro, ao parto

da Luz. Ilumina o olho cego das ruas,

desengaveta os poemas,

mostra a cara,

assume o sonho,

desnuda a alma...



E o mais certo de ti,

desnuda também, com calma,

porque em cada pele dorme

um bocado atrevido de luz.



Guarda a lua que vês,

três pedaços de crepúsculo

e dois de aurora,

para trazer nos olhos

à emergência do amor amado.



Não peça nada dos dias,

antes, desperta em cada um

a vontade mais doida e boa

de te fazer sempre mais

feliz, feliz...



E seja

feliz com o que deseja

e desejante do que faz riso.

Criterioso sem ciso,

cuidadoso, sem medo...

Seja o mistério e seja claro,

seja aquele instante raro

em que se sabe beber o Eterno

nas bocas.



Seja uma verdade,

não última, nem primeira,

seja qualquer verdade verdadeira

de um amor que se quer para querer,

de um momento

que não te aceita sozinho,

de um viajante, embriagado de caminho,

que deseja parar e olhar o sol.



Veja a estrela que arde,

aprenda a ouvi-las,

aprenda a dividir com as estrelas

a força

de multiplicar teus desejos,

de trazer os desejos pela mão,

de trazer o desejo nas mãos,

e estender brilho,

transbordante,

dos olhos ao chão de casa.



Saiba, de cór,

saiba demais, de ouvido,

a canção que te traz sentido

a um novo amor...

Saiba por um cheiro,

imaginar cores e formas.

E saiba inventar melhor depois.

Ou saiba nada. Esqueça um pouco...

E – de sexto sentido e outros cinco -

intua, de intuição descarada,

boa vida

para dois.

Yoga - Caminho para Deus: Hermógenes.

Quando os Mestres sugerem Ishvarapranidhana,
querem dizer ao caminhante -
"entregue-se a Deus".
Se o caminhante é cristão, ele se dá
ao Cristo. Se é hinduísta, dá-se a Ishvara,
Krishna, Kali...
ou outra expressão bem-aventurada de Deus.
Se é budhista, entrega-se ao Budha Amida...

Budista, hinduísta, cristão, judeu, maometano,
sufi, baha'i, maisdaísta, vedantino...
O yoguin pauta sua vida pela Vida Divina,
procura harmonizar seu comportamento
com a lei do Eterno...
e seu mantram, sua ladainha, seu cântico
predileto é
"seja feita a Vossa Vontade".

O devoto, em sua humildade, torna-se sábio e
alcança a felicidade se assim pensa.
"Não sou eu, filho distante e perdido, que posso
saber o que é melhor para mim.
Pode ser uma alegria.
Pode ser uma tristeza. Pode ser uma ascensão.
Pode ser uma queda. Pode ser um aplauso.
Pode ser uma vaia. Pode ser uma satisfação
ou uma privação. Vindo de Deus,
eu recebo".

(pg. 101)

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Herbert Vianna.

Cirurgia de lipoaspiração?

Pelo amor de Deus, eu não quero usar nada
nem ninguém, nem falar do que não sei, nem
procurar culpados, nem acusar ou apontar
pessoas, mas ninguém está percebendo que toda
essa busca insana pela estética ideal é muito
menos lipo-as e muito mais piração?

Uma coisa é saúde outra é obsessão. O mundo
pirou, enlouqueceu. Hoje, Deus é a auto imagem.
Religião, é dieta. Fé, só na estética. Ritual é malhação.

Amor é cafona, sinceridade é careta, pudor é
ridículo, sentimento é bobagem.

Gordura é pecado mortal. Ruga é contravenção.
Roubar pode, envelhecer, não.
Estria é caso de polícia. Celulite é falta de
educação. Filho da puta bem sucedido é
exemplo de sucesso.

A máxima moderna é uma só: pagando bem,
que mal tem?

A sociedade consumidora, a que tem dinheiro,
a que produz, não pensa em mais nada além da
imagem, imagem, imagem. Imagem, estética,
medidas, beleza. Nada mais importa. Não
importam os sentimentos, não importa a cultura,
a sabedoria, o relacionamento, a amizade, a ajuda,
nada mais importa.

Não importa o outro, o coletivo. Jovens
não tem mais fé, nem idealismo, nem posição
política. Adultos perdem o senso em busca
da juventude fabricada.

Ok, eu também quero me sentir bem, quero
caber nas roupas, quero ficar legal, quero
caminhar, correr, viver muito, ter uma
aparência legal mas...

Uma sociedade de adolescentes anoréxicas
e bulímicas, de jovens lipoaspirados,
turbinados, aos vinte anos não é natural.
Não é, não pode ser. Que as pessoas discutam
o assunto. Que alguém acorde. Que o
mundo mude.

Que eu me acalme. Que o amor sobreviva.

"Cuide bem do seu amor, seja ele quem for."

Herbert Vianna
Cantor e compositor
Abençoados os que possuem amigos, os que os têm sem pedir.
Porque amigo não se pede, não se compra, nem se vende.
Amigo a gente sente!

Benditos os que sofrem por amigos, os que falam com o olhar.
Porque amigo não se cala, não questiona, nem se rende.
Amigo a gente entende!

Benditos os que guardam amigos, os que entregam o ombro pra chorar.
Porque amigo sofre e chora.
Amigo não tem hora pra consolar!

Benditos sejam os amigos que acreditam na tua verdade ou te apontam a
realidade.
Porque amigo é a direção.
Amigo é a base quando falta o chão!

Benditos sejam todos os amigos de raízes, verdadeiros.
Porque amigos são herdeiros da real sagacidade.
Ter amigos é a melhor cumplicidade!

Há pessoas que choram por saber que as rosas têm espinho,
Há outras que sorriem por saber que os espinhos têm rosas!

(Autor desconhecido)

Edmond Jabès: as palavras elegem o poeta.

Tu és aquele que escreve e que é escrito.

Marca com um sinal vermelho a primeira página
do livro, pois a ferida é invisível
em seu início.

Procuras te libertar pela escritura. Que erro!
Cada vocábulo é o véu levantado
de um novo liame.

Não negligencia o eco,
pois é de ecos que tu vives.

Uma folha branca está cheia de caminhos.

Ele interroga as palavras que o interrogam.

O livro nos lê.

Toda porta tem por guardiã uma palavra
(palavra-senha, palavra-mágica).

Tornar a palavra visível, isto é, negra.

Um dia a poesia mostrará aos homens o seu rosto.

Só o leitor é real.

Quando os homens estiverem de acordo
quanto ao sentido de cada palavra,
a poesia não mais terá sua razão de ser.

Uma amizade não é talvez mais do que
uma troca de léxicos.

Uma vez núbil, a imagem só sonha com as núpcias.

O humor é poesia. O cômico é prosa.

O deserto emite palavras áridas.

A aurora cria o galo.

A memória do poeta é o seu tempo.

O poema é a semelhança.

O sexo é sempre uma vogal.

A arte do escritor consiste em provocar,
pouco a pouco,
as palavras a se interessarem por seus livros.

As palavras elegem o poeta.

O louco é a vítima da rebelião das palavras.

Num poema, o eco é tão importante quanto o silêncio.

Graças ao ritmo, o poeta conserva
o equilíbrio que as palavras lhe disputam.

A imagem é formada de palavras que a sonham.

Pronunciada, a palavra voa; escrita, ela nada.

O poeta dá a obra o seu nome. O leitor, a sua imagem.

Uma sombra no deserto é sinônimo de vida.

O infinito é negro.

As palavras se agrupam em torno da imagem
como os homens em torno de mesa
ou de uma fogueira.

A palavra traz em si o livro, como o homem o universo.

A palavra adora a obscuridade.

O poema é a sede que o desejo
de uma sede maior sacia.

A vista modela, como a voz, a palavra.

As palavras tem sons por sombra.

(Seleção e tradução-homenagem de Max Martins
a Edmond Jabès, falecido em Janeiro de 1991.)

domingo, 27 de dezembro de 2009

Canção na Plenitude - Lya Luft.

Não tenho mais os olhos de menina
nem corpo adolescente, e a pele
translúcida há muito se manchou.
Há rugas onde havia sedas, sou uma
estrutura agrandada pelos anos e o peso
dos fardos bons ou ruins.
(Carreguei muitos com gosto e alguns
com rebeldia.)

O que te posso dar é mais que tudo
o que perdi: dou-te os meus ganhos.
A maturidade que consegue rir
quando em outros tempos choraria,
busca te agradar
quando antigamente quereria
apenas ser amada.
Posso dar-te muito mais do que beleza
e juventude agora: esses dourados anos
me ensinaram a amar melhor, com mais
paciência e não menos ardor, a entender-te
se precisas, a aguardar-te quando vais,
a dar-te regaço de amante e colo de amiga,
e sobretudo força - que vem do aprendizado.
Isso posso te dar: um mar antigo e confiável
cujas marés - mesmo se fogem -
retornam,
cujas correntes ocultas não levam destroços
mas o sonho interminável das sereias.

(O texto acima foi extraído do livro
"Secreta Mirada", Editora Mandarim -
São Paulo, 1997, pg. 151)

sábado, 26 de dezembro de 2009

O dia da Criação - Vinicius de Moraes

Macho e fêmea os criou.

Gênese, 1, 27

I


Hoje é sábado, amanhã é domingo
A vida vem em ondas, como o mar
Os bondes andam em cima dos trilhos
E Nosso Senhor Jesus Cristo morreu na cruz para nos salvar.


Hoje é sábado, amanhã é domingo
Não há nada como o tempo para passar
Foi muita bondade de Nosso Senhor Jesus Cristo
Mas por via das dúvidas livrai-nos meu Deus de todo mal.


Hoje é sábado, amanhã é domingo
Amanhã não gosta de ver ninguém bem
Hoje é que é o dia do presente
O dia é sábado.


Impossível fugir a essa dura realidade
Neste momento todos os bares estão repletos de homens vazios
Todos os namorados estão de mãos entrelaçadas
Todos os maridos estão funcionando regularmente
Todas as mulheres estão atentas
Porque hoje é sábado.


II



Neste momento há um casamento
Porque hoje é sábado
Hoje há um divórcio e um violamento
Porque hoje é sábado
Há um rico que se mata
Porque hoje é sábado
Há um incesto e uma regata
Porque hoje é sábado
Há um espetáculo de gala
Porque hoje é sábado
Há uma mulher que apanha e cala
Porque hoje é sábado
Há um renovar-se de esperanças
Porque hoje é sábado
Há uma profunda discordância
Porque hoje é sábado
Há um sedutor que tomba morto
Porque hoje é sábado
Há um grande espírito-de-porco
Porque hoje é sábado
Há uma mulher que vira homem
Porque hoje é sábado
Há criançinhas que não comem
Porque hoje é sábado
Há um piquenique de políticos
Porque hoje é sábado
Há um grande acréscimo de sífilis
Porque hoje é sábado
Há um ariano e uma mulata
Porque hoje é sábado
Há uma tensão inusitada
Porque hoje é sábado
Há adolescências seminuas
Porque hoje é sábado
Há um vampiro pelas ruas
Porque hoje é sábado
Há um grande aumento no consumo
Porque hoje é sábado
Há um noivo louco de ciúmes
Porque hoje é sábado
Há um garden-party na cadeia
Porque hoje é sábado
Há uma impassível lua cheia
Porque hoje é sábado
Há damas de todas as classes
Porque hoje é sábado
Umas difíceis, outras fáceis
Porque hoje é sábado
Há um beber e um dar sem conta
Porque hoje é sábado
Há uma infeliz que vai de tonta
Porque hoje é sábado
Há um padre passeando à paisana
Porque hoje é sábado
Há um frenesi de dar banana
Porque hoje é sábado
Há a sensação angustiante
Porque hoje é sábado
De uma mulher dentro de um homem
Porque hoje é sábado
Há uma comemoração fantástica
Porque hoje é sábado
Da primeira cirurgia plástica
Porque hoje é sábado
E dando os trâmites por findos
Porque hoje é sábado
Há a perspectiva do domingo
Porque hoje é sábado


III


Por todas essas razões deverias ter sido riscado do Livro das Origens,
ó Sexto Dia da Criação.
De fato, depois da Ouverture do Fiat e da divisão de luzes e trevas
E depois, da separação das águas, e depois, da fecundação da terra
E depois, da gênese dos peixes e das aves e dos animais da terra
Melhor fora que o Senhor das Esferas tivesse descansado.
Na verdade, o homem não era necessário
Nem tu, mulher, ser vegetal, dona do abismo, que queres como
as plantas, imovelmente e nunca saciada
Tu que carregas no meio de ti o vórtice supremo da paixão.
Mal procedeu o Senhor em não descansar durante os dois últimos dias
Trinta séculos lutou a humanidade pela semana inglesa
Descansasse o Senhor e simplesmente não existiríamos
Seríamos talvez pólos infinitamente pequenos de partículas cósmicas
em queda invisível na
terra.
Não viveríamos da degola dos animais e da asfixia dos peixes
Não seríamos paridos em dor nem suaríamos o pão nosso de cada dia
Não sofreríamos males de amor nem desejaríamos a mulher do próximo
Não teríamos escola, serviço militar, casamento civil, imposto sobre a renda
e missa de
sétimo dia.
Seria a indizível beleza e harmonia do plano verde das terras e das
águas em núpcias
A paz e o poder maior das plantas e dos astros em colóquio
A pureza maior do instinto dos peixes, das aves e dos animais em [cópula.
Ao revés, precisamos ser lógicos, freqüentemente dogmáticos
Precisamos encarar o problema das colocações morais e estéticas
Ser sociais, cultivar hábitos, rir sem vontade e até praticar amor sem vontade
Tudo isso porque o Senhor cismou em não descansar no Sexto Dia e [sim no Sétimo
E para não ficar com as vastas mãos abanando
Resolveu fazer o homem à sua imagem e semelhança
Possivelmente, isto é, muito provavelmente
Porque era sábado.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Eu queria dizer alguma coisa pura,
mas a pureza já me abandonou
há muito tempo.

Eu queria dizer alguma coisa nobre,
mas a nobreza cata as latas
de lixo nos porões da noite dilacerada
do meu coração,
e não há mais remédio.

Eu queria dizer alguma coisa esperançosa,
mas a esperança
bateu em retirada após incontáveis
desapontamentos.

E não resta mais nada,
a não ser a dor,
que procuro sufocá-la nas drogas
e no álcool.

Eu queria desejar um Feliz Natal,
mas a realidade aí fora
é cruel demais e eu não consigo
ignorá-la.

Carlos Maia.
23/12/09

Yoga - Caminho para Deus: Hermógenes

Sem o tormento da fornalha o minério continua
inaproveitado, inútil e impuro.
O fogo purifica e lhe dá utilidade.
A alma, se não é queimada no fogo das
provações, continua impura e incapaz para a Luz.
Por que lamentar o sofrimento?
Por que tentar anestesia ou fuga?

(pg. 96)

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Janeiro de 1984, Nazaré - Cabo de Santo Agostinho.
Alugamos por um ano essa casinha à Dona Oneida.
Eu, Lúcia, Ivo, Andréia, Cadinho, Gerino, Cris.
Eu e Ivo trabalhavamos no Banco do Brasil
em Lagoa dos Gatos,
interior de Pernambuco.

Todo final de semana íamos direto do Banco
pra lá. Época inesquecível, emoção que não volta
mais. Essa história de dizer que a melhor
época da nossa vida é hoje, pra mim é balela.

Aquela foi a melhor época da minha vida!

Mas não volta mais, o tempo não para, como
diria Cazuza. Ganhamos em experiência e
perdemos em alumbramento.

Os mares nunca dantes navegados, as descobertas...
O frescor da juventude!

Sei que novos mares virão, novos Everestes.
Mas a emoção da primeira vez é inigualável, fica
marcada a ferro e fogo nos nossos
neurônios!

Sei que ainda andarei pelos pastos
com flores de jasmim nos cabelos, guiado
pelo nagual.
Não tenho dúvidas disso.
Morrerei louco.
Como diz uma música de Paul Simon:
"And I Still Crazy after those years!"
E eu continuo louco após todos
esses anos!

FELIZ NATAL, GENTE!!!

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Eu Quero ser Tambor - José Craveirinha.

Tambor está velho de gritar
Oh velho Deus dos homens deixa-me ser tambor
corpo e alma só tambor
gritando na noite quente dos trópicos

Nem flor nascida no mato do desespero
Nem rio correndo para o mar do desespero
Nem zagaia temperado no lume vivo do desespero
Nem mesmo poesia forjada na dor rubra do desespero.

Nem nada!

Só tambor velho de gritar na lua cheia da minha terra
Só tambor de pele curtida ao sol da minha terra
Só tambor cavado nos troncos duros da minha terra.

Eu
Só tambor rebentando o silêncio amargo da Mafalala
Só tambor velho de sentar no batuque da minha terra
Só tambor perdido na escuridão da noite perdida.

Oh velho Deus dos homens
Eu quero ser tambor
e nem rio
e nem flor
e nem zagaia por enquanto
e nem mesmo poesia.
Só tambor ecoando como a canção da força da vida
Só tambor noite e dia
dia e noite só tambor
até a consumação da grande festa do batuque!
Oh velho Deus dos homens
Deixa-me ser tambor!

Poeta Moçambicano

Mafalala: Bairro da capital de Moçambique.
Zagaia: Lança curta de arremesso.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Cachaçatômica - Aldo Lins

Me armei com o copo e a espada
E a minha lança perfumada
Como um infante
Que perdeu a infância
E a infantaria.

Não reconheci o meu inimigo
Só no espelho o coração ferido
Como um cavaleiro
Que perdeu a dama
E a cavalaria.

Arremessei cem copos
De goela abaixo
E atrevessei a rua
Como um artilheiro
Que perdeu o gol
E a artilharia.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Lançamento do livro "Alma de Vidro", de Aldo Lins
será dia 16 de Dezembro, uma quarta-feira,
ás 19h, no Teatro Mamulengo,

praça do Arsenal da Marinha -
Recife Antigo,
em frente à Torre Malakof.
Vamos todos lá prestigiar,
que ele é muito bom
e o livro tá um esmero!

Paraibano, natural de Cajazeiras e
radicado há 17 anos em Recife,
o poeta Aldo Lins traz no livro
prefácio de Jaci Bezerra e orelha por Ângelo Monteiro.
A edição assinada pela Grupo Paés
vem para fazer sua poesia romper fronteiras.

Conheço Aldo desde os tempos
do "Hospício Poético",
em que ele organizava juntamente
com José Terra.
Século III A.C. mais ou menos.
Segue abaixo alguns
poemas de sua autoria.

Alegoria - Aldo Lins

Vinde e vede
Tendas e artesões
Cobrindo o seu corpo
Violetas e jasmins
Assento de teus pés
Castanholas e clarins
Anunciando uma nova era

Flores de primavera
Sobre as encostas de um vulcão
O sol de um final de guerra
Brilha na imensa amplidão

Voa sobre os seus restos
O canto de uma gralha canalha
Que cuspiu-lhe o rosto
Apedrejou-lhe os planos
E de punhal em punho
Antes de matar-lhe
O fez poeta

Mas no ensino dos sinos
O lodo da margem
A lama do fundo
São signos da última ceia
Passos oblíquos para o céu.

domingo, 13 de dezembro de 2009

Sob as Asas da Águia - Aldo Lins

A África negra
Desfila com seus balaios
Em uma cidade qualquer
Desta América miserável.

Uma mulher sorrí
Vendendo tapioca e negobom
No quintal das oficinas
As crianças perdem o frescor

A cidade semana acordada
Adormece aos domingos,
Na madrugada suja
Os solitários usam Ferrari
Os solidários, os pés no chão

Na outra margem da rua
Os anjos perseguem os bêbados
Com seus canivetes afiados
A linda cidade
Transforma-se num feroz animal

A pele escamada e cinza dos becos
Os vêem passar sombrios
Os luminosos perdem as cores

Das janelas dos sobrados
As mães com os olhos marejados
Sem favónios ou arpejos
Esperam os filhos,
Uma espera em vão.

OS TEMPOS NÃO VOLTAM!!!! - EDNARDO

É preciso fazer uma canção
Um trato, uma entrega, uma doação

É preciso a chuva, o escuro, a noite,
a solidão.
É preciso tudo agora
Um dissabor, uma vitória, uma confissão
A voz e um instrumento
E a tua mão
Que nos faça acordar
Sim, meias-palavras não bastam
É preciso acordar

É preciso mergulhar mais que 1.000 pés
Onde Netuno traça o rumo das marés
É preciso acertar a direção dos pés
Quando os velhos caminhos se esgotam
Os tempos não voltam!
Não voltam!

É preciso alcançar outra estação
Mesmo com sono, mesmo cansado,
solto como um cão,
É preciso o sol, a rua, a tarde,
a multidão,
É preciso atravessar lá fora,
um corredor, um rio da históra, uma revolução
o caos, uma palavra nova
o sim e o não
Lançamento do livro "Alma de Vidro", de Aldo Lins
será dia 16 de Dezembro, uma quarta-feira,
ás 19h, no Teatro Mamulengo,

praça do Arsenal da Marinha -
Recife Antigo,
em frente à Torre Malakof.
Vamos todos lá prestigiar,
que ele é muito bom
e o livro tá um esmero!

Paraibano, natural de Cajazeiras e
radicado há 17 anos em Recife,
o poeta Aldo Lins traz no livro
prefácio de Jaci Bezerra e orelha por Ângelo Monteiro.
A edição assinada pela Grupo Paés
vem para fazer sua poesia romper fronteiras.

Conheço Aldo desde os tempos
do "Hospício Poético",
em que ele organizava juntamente
com José Terra.
Século III A.C. mais ou menos.
Segue abaixo alguns
poemas de sua autoria.

Cachaçaatômica - Aldo Lins

Me armei com o copo e a espada
E a minha lança perfumada
Como um infante
Que perdeu a infância
E a infantaria.

Não reconheci o meu inimigo
Só no espelho o coração ferido
Como um cavaleiro
Que perdeu a dama
E a cavalaria.

Arremessei cem copos
De goela abaixo
E atrevessei a rua
Como um artilheiro
Que perdeu o gol
E a artilharia.

sábado, 12 de dezembro de 2009

Insurreição - Aldo Lins.

Primeiro feriu com mercúrio o rio
E as águas doces ferveram em rãs
E foram tantos mosquitos e moscas
Que nenhum animal sobreviveu

E com as mãos cinzentas
Fez adoecer a terra
Encharcando de granizo e pó
E os gafanhotos devoraram
O que sobrou do flagelo

Depois apagaram as luzes
E em cada casa
Onde havia um morto
Levaram os vestidos de prata
Para fazerem a travessia

Embora os homens de pedras
Não vejam quão magníficas são
A tua beleza e a tua mão.

Lançamento do livro "Alma de Vidro", de Aldo Lins
será dia 16 de Dezembro, uma quarta-feira,
ás 19h, no Teatro Mamulengo,

praça do Arsenal da Marinha -
Recife Antigo,
em frente à Torre Malakof.
Vamos todos lá prestigiar,
que ele é muito bom
e o livro tá um esmero!

Paraibano, natural de Cajazeiras e
radicado há 17 anos em Recife,
o poeta Aldo Lins traz no livro
prefácio de Jaci Bezerra e orelha por Ângelo Monteiro.
A edição assinada pela Grupo Paés
vem para fazer sua poesia romper fronteiras.

Conheço Aldo desde os tempos
do "Hospício Poético",
em que ele organizava juntamente
com José Terra.
Século III A.C. mais ou menos.
Segue abaixo 2 poemas de sua autoria.

Bandeira da Aurora - Aldo Lins

Comtemplo a arquitetura da Aurora
Recreio dos pássaros da Boa Vista
Do seu cais palco sempre dourado
E de museus falando as suas horas.

Aurora musa dos sonhos de Bandeira
Mãe de tantos andarilhos girassóis
Plataforma de olhares impassíveis
Transmutados pelo pão de cada dia.

Aurora monumento à liberdade
Descortina o Palácio das Princesas
E acolhe os eternos namorados
Embriagados com a lua do seu rio.

Quisera eu aqui ter vivido
A aurora azul da minha vida
Nesta via de perfeita geometria
Entre a fumaça e névoa da cidade.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Por trás das Lentes - Aldo Lins.

Canto
Mesmo sabendo que existem
Rimas passando fome
E versos sem casa para morar
Ainda assim eu canto
E canto como o solitário condor
Porque sei que um dia
Haverei de ver demolido o muro
Que se ergueu com a minha dor

Canto
Mesmo vendo um quadro negro no espelho
E um coração desenhado no peito
Com uma porta aberta para a saudade

Canto
Mesmo sentindo na boca
O gosto amargo que trago
Porque é neste canto
Que crio e formo
Este mundo louco, consciente
De poeta, de maluco impertinente
Que tanto canto sozinho
Como na multidão, no entanto encanto
Que no brilho ou no opaco deixo semente

Canto
E este canto alegre
Esconde este trapo
Porque é neste canto
Que eu sei que há em algum lugar
Num solitário canto
Um sabiá, um rouxinol
A murmurar também seu pranto

Canto
E este canto de guerra
Me ensina a viver em paz
Porque é neste canto
Que disfarço e encanto
E fujo do pranto
Por este ser acalanto

Aprender - Shakespeare

Depois de algum tempo você percebe
A diferença, a sutil diferença entre
Dar a mão e acorrentar uma alma.
E você aprende que amar não significa
Apoiar-se, e que a companhia nem
Sempre significa segurança.
E começa a aprender que beijos
Não são contratos e presentes
Não são promessas.
Começa a aceitar as derrotas
De cabeça erguida e olhos
Adiante, com a graça de um adulto,
E não com a tristeza de uma criança.
E aprende a construir suas estradas no hoje,
Porque o terreno do amanhã é incerto
Demais para os planos, e o futuro tem
O costume de cair em meio ao vão.
Depois de um tempo, você aprende que
O sol queima se ficar exposto por muito tempo.
E aprende que não importa o
Quanto você se importe, algumas pessoas
Simplesmente não se importam...
E aceita que não importa o quão boa
Seja uma pessoa,
Ela vai feri-lo de vez em quando
E você precisa perdoá-la por isso.
Aprende que falar pode aliviar dores emocionais.
Descobre que se leva anos para se
Construir a confiança e apenas segundos
Para destruí-la, e que você pode fazer coisas
Em um instante, das quais se arrependerá pelo
Resto da vida.
Aprende que verdadeiras amizades
Continuam a crescer mesmo a
Longas distâncias.
E o que importa não é
O que você tem na vida e sim
Quem você tem na vida.

E que bons amigos são a família
Que nos permitiram escolher.
Aprende que não temos que mudar
De amigos se compreendermos
Que os amigos mudam,
Percebe que seu amigo e você podem
Fazer qualquer coisa, ou nada, e terem
Bons momentos juntos.
Descobre que as pessoas que você mais
Se importa na vida são tomadas de você
Muito depressa, por isso devemos
Deixar as pessoas que amamos
Com palavras amorosas,
Pode ser a última vez que as vejamos.
Aprende que as circunstâncias e os ambientes
Têm influência sobre nós, mas nós somos
Responsáveis por nós mesmos.

Começa a aprender que não se deve
Comparar com os outros, mas
Com o melhor que pode ser.
Descobre que se leva muito tempo
Para se tornar a pessoa que quer ser,
E que o tempo é curto.
Aprende que não importa
Onde já chegou,
Mas onde está indo,
Mas se você não sabe onde está indo,
Qualquer lugar serve.
Aprende que, ou você controla seus atos
Ou eles o controlarão, e que ser flexível
Não significa ser fraco ou não ter personalidade,
Pois não importa quão delicada e frágil
Seja uma situação,
Sempre existem dois lados.
Aprende que heróis são pessoas que
Fizeram o que era necessário fazer,
Enfrentando as consequências.

Aprende que paciência requer muita prática.
Descobre que às vezes a pessoa que
Você espera que o chute quando você cai
É uma das poucas que o ajudam
A levantar-se.
Aprende que maturidade tem
Mais a ver com tipos de experiência
Que se teve e o que você aprendeu com elas,
Do que com quantos aniversários
Você celebrou.
Aprende que há mais dos seus
Pais em você do que você supunha.
Aprende que nunca se deve dizer
A uma criança que sonhos são bobagens,
Poucas coisas são tâo humilhantes
Que seria uma tragédia
Se ela acreditasse nisso.

Aprende que quando está com raiva
Tem o direito de estar com raiva,
Mas isso não te dá o direito de ser cruel.
Descobre que só porque alguém não
Te ama do jeito que você quer que ame,
Não significa que esse alguém
Não te ama com tudo que pode,
Pois existem pessoas que nos amam,
Mas simplesmente não sabem
Demonstrar e viver isso.

Aprende que nem sempre é
Suficiente ser perdoado por alguém,
Algumas vezes você tem que
Aprender a perdoar a si mesmo.
Aprende que com a mesma severidade
Com que julga, será em algum momento
Condenado.
Aprende que não importa em quantos
Pedaços seu coração foi partido,
O mundo não pára para que
Você o conserte.
Aprende que o tempo não é algo
Que possa voltar para trás.

Portanto, plante seu jardim
E decore sua alma,
Ao invés de esperar que alguém
Te mande flores.
E você aprende que pode suportar...
Que realmente é forte,
E que pode ir muito mais longe
Depois de pensar que não se pode mais.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009


Para
Joffre Tenório

Eu encontrei
Num copo de cerveja
Uma bactéria leprosa,
Muito beba e
Muito prosa,
Foi aí que eu descobri
O protoplasma de plástico
E então eu perguntei:
O que é que meu
Pé tem a ver com
Minha mãe?

Carlos Maia
Julho/78

A noite foi pesada.
Mais uma noite de insônia
à frente do computador, na internet,
escrevendo no blog.
Na matéria que eu estava escrevendo
sobre Provérbios, Paulo e Silas
foi tanta unção que eu pensei
que ía ter um ataque
de epilepsia.
Tive que tomar um Riva pra me acalmar.

Meu chakra coronariano está
em frangalhos, dolorido.
Está difícil liberar o perdão,
mas eu bem sei
que não há outra saída.

Agora já são 4 hs e continuo aceso.

Vou malhar na Jaqueira.

Bom Dia a todos!

Carlos Maia.
Lançamento do livro "Alma de Vidro", de Aldo Lins
será dia 16 de Dezembro, uma quarta-feira,
ás 19h, no Teatro Mamulengo,

praça do Arsenal da Marinha -
Recife Antigo,
em frente à Torre Malakof.
Vamos todos lá prestigiar,
que ele é muito bom
e o livro tá um esmero!

Paraibano, natural de Cajazeiras e
radicado há 17 anos em Recife,
o poeta Aldo Lins traz no livro
prefácio de Jaci Bezerra e orelha por Ângelo Monteiro.
A edição assinada pela Grupo Paés
vem para fazer sua poesia romper fronteiras.

Conheço Aldo desde os tempos
do "Hospício Poético",
em que ele organizava juntamente
com José Terra.
Século III A.C. mais ou menos.
Segue abaixo 3 poemas de sua autoria.

Sonâmbulo - Aldo Lins



Para Carlos Maia



Ao espelho no seu mundo patético

Nem mais um petardo o desperta
Nem a espera renitente por algo
De alguém que pintou outra aquarela.

O desmantelo da vida o conduz
Para as calçadas sujas e medonhas
Para o banho em águas escuras
Para a noite longa e tristonha

Agachado contempla as estrelas
Relâmpago do sorriso de uma sereia
No seu coração indigente em agonia

Mas o sangue em cruz pelas calçadas
Mancha a torre azul da catedral
Mancha os trilhos de nossa alma.

Foto: Carlos Maia.