Tu és aquele que escreve e que é escrito.
Marca com um sinal vermelho a primeira página
do livro, pois a ferida é invisível
em seu início.
Procuras te libertar pela escritura. Que erro!
Cada vocábulo é o véu levantado
de um novo liame.
Não negligencia o eco,
pois é de ecos que tu vives.
Uma folha branca está cheia de caminhos.
Ele interroga as palavras que o interrogam.
O livro nos lê.
Toda porta tem por guardiã uma palavra
(palavra-senha, palavra-mágica).
Tornar a palavra visível, isto é, negra.
Um dia a poesia mostrará aos homens o seu rosto.
Só o leitor é real.
Quando os homens estiverem de acordo
quanto ao sentido de cada palavra,
a poesia não mais terá sua razão de ser.
Uma amizade não é talvez mais do que
uma troca de léxicos.
Uma vez núbil, a imagem só sonha com as núpcias.
O humor é poesia. O cômico é prosa.
O deserto emite palavras áridas.
A aurora cria o galo.
A memória do poeta é o seu tempo.
O poema é a semelhança.
O sexo é sempre uma vogal.
A arte do escritor consiste em provocar,
pouco a pouco,
as palavras a se interessarem por seus livros.
As palavras elegem o poeta.
O louco é a vítima da rebelião das palavras.
Num poema, o eco é tão importante quanto o silêncio.
Graças ao ritmo, o poeta conserva
o equilíbrio que as palavras lhe disputam.
A imagem é formada de palavras que a sonham.
Pronunciada, a palavra voa; escrita, ela nada.
O poeta dá a obra o seu nome. O leitor, a sua imagem.
Uma sombra no deserto é sinônimo de vida.
O infinito é negro.
As palavras se agrupam em torno da imagem
como os homens em torno de mesa
ou de uma fogueira.
A palavra traz em si o livro, como o homem o universo.
A palavra adora a obscuridade.
O poema é a sede que o desejo
de uma sede maior sacia.
A vista modela, como a voz, a palavra.
As palavras tem sons por sombra.
(Seleção e tradução-homenagem de Max Martins
a Edmond Jabès, falecido em Janeiro de 1991.)
Marca com um sinal vermelho a primeira página
do livro, pois a ferida é invisível
em seu início.
Procuras te libertar pela escritura. Que erro!
Cada vocábulo é o véu levantado
de um novo liame.
Não negligencia o eco,
pois é de ecos que tu vives.
Uma folha branca está cheia de caminhos.
Ele interroga as palavras que o interrogam.
O livro nos lê.
Toda porta tem por guardiã uma palavra
(palavra-senha, palavra-mágica).
Tornar a palavra visível, isto é, negra.
Um dia a poesia mostrará aos homens o seu rosto.
Só o leitor é real.
Quando os homens estiverem de acordo
quanto ao sentido de cada palavra,
a poesia não mais terá sua razão de ser.
Uma amizade não é talvez mais do que
uma troca de léxicos.
Uma vez núbil, a imagem só sonha com as núpcias.
O humor é poesia. O cômico é prosa.
O deserto emite palavras áridas.
A aurora cria o galo.
A memória do poeta é o seu tempo.
O poema é a semelhança.
O sexo é sempre uma vogal.
A arte do escritor consiste em provocar,
pouco a pouco,
as palavras a se interessarem por seus livros.
As palavras elegem o poeta.
O louco é a vítima da rebelião das palavras.
Num poema, o eco é tão importante quanto o silêncio.
Graças ao ritmo, o poeta conserva
o equilíbrio que as palavras lhe disputam.
A imagem é formada de palavras que a sonham.
Pronunciada, a palavra voa; escrita, ela nada.
O poeta dá a obra o seu nome. O leitor, a sua imagem.
Uma sombra no deserto é sinônimo de vida.
O infinito é negro.
As palavras se agrupam em torno da imagem
como os homens em torno de mesa
ou de uma fogueira.
A palavra traz em si o livro, como o homem o universo.
A palavra adora a obscuridade.
O poema é a sede que o desejo
de uma sede maior sacia.
A vista modela, como a voz, a palavra.
As palavras tem sons por sombra.
(Seleção e tradução-homenagem de Max Martins
a Edmond Jabès, falecido em Janeiro de 1991.)
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