quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Desejos de Janeiro - Luciana Cavalcanti.


Saiba um amor que te sinta,

mergulhe por sede da pele,

delire em canção que não minta...

E feche os olhos,

e abra o peito,

encontre o mar.



Encontre o caminho de casa,

da casa invisível,

onde morarão teus sonhos,

onde moras já (sem saber).

Queira o amor,

dilate o querer,

dilate os dias,

comendo as horas sem pressa,

como fruta boa em dia de mar.



Saiba saber do desejo,

não se esquive (nunca!) ao bom do beijo

- nem se furte ao beijo roubado!

Sinta o amor do cuidado,

saiba das harmonias do silêncio

e cante. E dance. E seja...



Feche bem os olhos, se veja.

Ajuda, no escuro, ao parto

da Luz. Ilumina o olho cego das ruas,

desengaveta os poemas,

mostra a cara,

assume o sonho,

desnuda a alma...



E o mais certo de ti,

desnuda também, com calma,

porque em cada pele dorme

um bocado atrevido de luz.



Guarda a lua que vês,

três pedaços de crepúsculo

e dois de aurora,

para trazer nos olhos

à emergência do amor amado.



Não peça nada dos dias,

antes, desperta em cada um

a vontade mais doida e boa

de te fazer sempre mais

feliz, feliz...



E seja

feliz com o que deseja

e desejante do que faz riso.

Criterioso sem ciso,

cuidadoso, sem medo...

Seja o mistério e seja claro,

seja aquele instante raro

em que se sabe beber o Eterno

nas bocas.



Seja uma verdade,

não última, nem primeira,

seja qualquer verdade verdadeira

de um amor que se quer para querer,

de um momento

que não te aceita sozinho,

de um viajante, embriagado de caminho,

que deseja parar e olhar o sol.



Veja a estrela que arde,

aprenda a ouvi-las,

aprenda a dividir com as estrelas

a força

de multiplicar teus desejos,

de trazer os desejos pela mão,

de trazer o desejo nas mãos,

e estender brilho,

transbordante,

dos olhos ao chão de casa.



Saiba, de cór,

saiba demais, de ouvido,

a canção que te traz sentido

a um novo amor...

Saiba por um cheiro,

imaginar cores e formas.

E saiba inventar melhor depois.

Ou saiba nada. Esqueça um pouco...

E – de sexto sentido e outros cinco -

intua, de intuição descarada,

boa vida

para dois.

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