domingo, 27 de dezembro de 2009

Canção na Plenitude - Lya Luft.

Não tenho mais os olhos de menina
nem corpo adolescente, e a pele
translúcida há muito se manchou.
Há rugas onde havia sedas, sou uma
estrutura agrandada pelos anos e o peso
dos fardos bons ou ruins.
(Carreguei muitos com gosto e alguns
com rebeldia.)

O que te posso dar é mais que tudo
o que perdi: dou-te os meus ganhos.
A maturidade que consegue rir
quando em outros tempos choraria,
busca te agradar
quando antigamente quereria
apenas ser amada.
Posso dar-te muito mais do que beleza
e juventude agora: esses dourados anos
me ensinaram a amar melhor, com mais
paciência e não menos ardor, a entender-te
se precisas, a aguardar-te quando vais,
a dar-te regaço de amante e colo de amiga,
e sobretudo força - que vem do aprendizado.
Isso posso te dar: um mar antigo e confiável
cujas marés - mesmo se fogem -
retornam,
cujas correntes ocultas não levam destroços
mas o sonho interminável das sereias.

(O texto acima foi extraído do livro
"Secreta Mirada", Editora Mandarim -
São Paulo, 1997, pg. 151)

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