segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Alma Perdida - Mário Quintana

Depois que é o corpo arremessado sobre o cais do
sono
Quem poderá dizer o que é feito da sua alma
milenária? Acaso
Ajunta-se às demais no primitivo abandono do mundo
Acossadas em grutas
Em profundas floretas
Onde se desenrolam imensamente as serpentes
E arde em silenciosa brasa o olhar fixo das feras?
Ou prostra-se ante os Deuses bárbaros
Com seus látegos de raios
Ou seus pés de pedra imóveis e pesados como
montanhas?
Ah! leva então muitos e muitos séculos até que
a madrugada
Feita do cricrilar dos derradeiros grilos
Das cabeleiras úmidas e pendidas dos salsos
Até que a mão da madrugada
Afague
Suavemente as feições do adormecido à deriva...
Sim! À noite, as almas deste mundo vagam em
alcatéias como lobos,
O medo as traz unidas e ferozes
E só uma ou outra - a minha? - às vezes,
solitária, fica...
- Olha:
Aquele negro, aquele enorme cão uivando
para a Lua!

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