quinta-feira, 30 de abril de 2009

Vairagya.

Se você ainda crê que o mundo, com tudo que
oferece aos que são do mundo, ainda lhe pode
dar felicidade, paz, plenitude, segurança...; se ainda
se acha fascinado e entregue ao mundo,
longe está de poder caminhar no rumo do Eterno.
"Ninguém pode, ao mesmo tempo, servir a dois
senhores", e dois senhores tão distintos:
Deus e Mammon, Nirvana e Sansara!
Aquele que ainda está sujeito e esperançoso,
envolvido e preso, sempre desejará voltar,
não para o Reino, mas para o mundo que
o chama e ele escuta.
Apego (às coisas, às situações, às pessoas,
às ideologias, às seguranças, ao status, a
aplausos...tão necessários ao eu) é carga
descomunal atada às costas do
pseudocaminhante. E ninguém avança quando
demasiadamente carregado. O volume dos
objetos do apego impossibilita atravessar
a "porta estreita".
Por isso os Mestres sugerem:
"Aliviem-se da carga! Vairagya! Renunciem!"
Há renúncias mais fáceis. É bom começar
por elas. Outras, mais difíceis, acontecerão depois,
à medida que a dor nos amadurece,
e as desilusões nos esclarecem.
A última e mais difícil renúncia é ao eu, ao eu
tão indispensável aos que, divertidamente,
se entretêm no mundo.
A decisiva e real renúncia ao eu opera o milagre:
os olhos se abrem e conseguem ver que
a "porta estreita", a "estrada angustiante",
a distância, a fragmentação já não existem e
jamais existiram, e que nada existe
senão o Uno sem segundo.
Vairagya, sem viveka (luz do discernimento),
desequilibra, corrompe, destrói.
Ela não pode ser prematura. Ai daquele que,
pensando ter renunciado ao mundo, por uma série
de atitudes e atos externos, continua ligado
ao mundo.
Ela não pode ser falsa e forçada, pois não tem
condições de subsistir.
A renúncia é real e irreversível quando a alma
desperta e, natural e espontaneamente, não tem
mais qualquer desejo pelos valores antigos.
Aos que pretendem renunciar, a advertência dos
Mestres - Prudência! Discernimento!
Não é o traje sacerdotal nem a filiação a um
grupo renunciante que significam renúncia.
Renúncia de aparência é uma traição
a si mesmo. É um meio de fazer-se
uma imagem e de impressionar outrem...
Passo a passo, de amadurecimento em
amadurecimento, de deslumbramento em
deslumbramento, de desilusão em desilusão,
a alma se vai desapegando,
largando a carga-óbice...
Sem vairagya - insistem os Mestres -
a distância continua.

Yoga - Caminho para Deus.
Hermógenes.
(pgs. 36 à 38)

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