quarta-feira, 20 de abril de 2011

O Guardador de Rebanhos - Alberto Caeiro (Fernando Pessoa)


  O meu olhar é nítido como um girassol.
     Tenho o costume de andar pelas estradas

     Olhando para a direita e para a esquerda,

     E de, vez em quando olhando para trás...

     E o que vejo a cada momento

     É aquilo que nunca antes eu tinha visto,

     E eu sei dar por isso muito bem...

     Sei ter o pasmo essencial

     Que tem uma criança se, ao nascer,

     Reparasse que nascera deveras...

     Sinto-me nascido a cada momento

     Para a eterna novidade do Mundo...
     Creio no mundo como num malmequer,
     Porque o vejo.  Mas não penso nele

     Porque pensar é não compreender ...
     O Mundo não se fez para pensarmos nele
     (Pensar é estar doente dos olhos)

     Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo...
     Eu não tenho filosofia: tenho sentidos...
     Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,

     Mas porque a amo, e amo-a por isso,

     Porque quem ama nunca sabe o que ama

     Nem sabe por que ama, nem o que é amar ...

     Amar é a eterna inocência,

     E a única inocência não pensar...

5 comentários:

Anônimo disse...

Belo poema Carlos, como todos que vc publica em seu blog. Boa páscoa para vc e todos os seus familiares.

Tadeu Rocha disse...

Belo poema Carlos, como todos que vc publica em seu blog. Boa páscoa para vc e todos os seus familiares.

Poeta Carlos Maia disse...

Obrigado, Tadeu.
Boa Páscoa pra você também, amigo!

Tadeu Rocha disse...

Sabe Carlos, sua lembrança sobre os 125 anos de Manuel Bandeira desencadeou uma verdadeira corrente do bem, se espalhando por diversos blogs. Feliz é todo aquele que tem o privilégio de te conhecer. Um forte abraço. E viva a poesia!

Poeta Carlos Maia disse...

Que coisa boa, Tadeu!
Feliz é aquele que te conhece também, amigo!

Um Grande Abraço!