sexta-feira, 8 de julho de 2011

Casa - David Mourão Ferreira


Tentei fugir da mancha mais escura
Que existe no teu corpo, e desisti.
Era pior do que a morte o que antevi;
Era a dor de ficar sem sepultura.

Bebi entre os teus flancos a loucura
De não poder viver longe de ti:
És a sombra da casa onde nasci,
És a noite que à noite me procura.

Só por dentro de ti há corredores
E em quartos interiores, cheiro a fruta
Que veste de frescura a escuridão...

Só por dentro de ti rebentam flôres.
Só por dentro de ti a noite escuta
O que sem voz me sai do coração.

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