Aqueronte CapibaribeQuem atravessaria tuas margens
Para transladar entre infernos
E sub-paraísos?
O limbo luminoso dos domingos
Permanece nos prostíbulos
E as bacantes dissolvem-se
Entre frevos e náuseas rutilantes.
Aqueronte castigado pela terra
Cuja a sede saciada foi a adaga
Do seu corte.
O subterrâneo desta paisagem fantasmal
Nutre no seu âmago
Mil ácidos e cólicas do cais que deixou
Seus partos imaturos criarem cidades.
Quem guia no limbo luminoso
É o poeta turvo que escreve no lodo
Do esquecimento seu trajeto, seu canto
Sua impossibilidade de silêncio e pranto.
Está estacionado na ponte
Há mil anos como estátua tautológica
Recitando sempiterno a mesma prosa:
Quem bebe desta água
Perde a esperança e a alma.
Aqueronte de quatro braços de shiva
E milhares de tentáculos-ilhas
Impenetráveis e intraduzíveis.
Transpor as tuas águas
Com naus submersas da fala.
Com toscas flores do engano
Com o símbolo ambíguo
Da vigília e do sono é desnadar
Aniquilado e insone no limbo luminoso
Desta cidade móvel de histórias movediças.
Um protomito prometéico
Cujo fígado foi dissolvido por vinhos vagabundos
E o fogo ofertado não iluminou nesta noite
O canto que atravessou todas as pontes,
Palafitas de um mar morto.
Assim como também tua voz e teu corpo.
Março/2005
2 comentários:
Grande Carlos!
Ando sempre lendo seus poemas aqui; este blog já virou parada obrigatória, rsrs
Queria te dar uma palhinha do que ando escrevendo. Este é o mais novo e refinado:
"Sinto, em toda a pureza astronômica das insígnias autônomas, que o bem de existir nos é concedido através do linear fio da vida, vida cruel, vida injusta, vida justa! Ajusta, ajusto-me. Meu ser, agora imenso nesse mar azul, lindo mar azul, calcário, assoalho...Baralho! Jogos como baralho, jogos divertidos, jogos de bola, bola da vida...Vida justa"
Estou pensando em submetê-los a uma editora.
Um fraterno abraço,
Tobias Praieiro
Postar um comentário