sábado, 26 de junho de 2010

Amor Incontável - Cristiano Siqueira

Foi preciso datar esse amor
com carbono-catorze pra saber
ao certo de quando ele não vinha.

Foi preciso o medo de sexta-feira treze
pra que a superstição o explicasse, com erro
de uma casa decimal, todo o bem desse amor.

Foi preciso doze Judas
a me delatar e dar jus
ao amor que vim.

Foi preciso potências de base onze,
todos os triângulos de Pascal e sequer
dar conta das qualidades desse amor.

Foi preciso combinar um e zero pelo tudo
e pelo nada desse amor, desde a graça do primeiro
murmúrio às linguagens sérias do computador.

Foi preciso a maior das unidades
pra que me fizesse das partes
um todo nesse amor.

Foi preciso esconder: oi tô aqui!
e o amor me chegasse mal-educado
invadindo os meus quartos e me pegando pelado.

Foi preciso mais que sete pecados
todos perdoados por eu ter amado
as capitais desse amor.

Foi preciso seis dias de morte e vida
na criação do que há entre céu e a terra:
um amor que não descansa e ressuscita.

Foi preciso saliva, lágrima, suor,
cerume e coriza dos cinco sentidos
do amor nos meus sentidos.

Foi preciso tocar a quatro mãos
os movimentos do amor
na barriga de uma mãe.

Foi preciso o ponto, a reta e o plano,
a tridimensão do mundo
em amor de pai, filho e espírito santo.

Foi preciso apenas dois dedos de prosa,
antes de um beijo roubado de amor
envolto no medo de levar um fora.

Foi preciso um primeiro amor,
um último amor e uns meios amores
pra dar tudo um inteiro de amor.

Não! Não foi preciso nada
pra que eu te contasse de amor,
conte comigo, seja a conta que for!

Um comentário:

Anônimo disse...

Belíssimo! Onde vc descobre essas preciosidades?

Tadeu