segunda-feira, 28 de junho de 2010

Quanto a Mim, Sonharei com Portugal - Eduardo Alves da Costa.


Às vezes, quando
estou triste e há silêncio
nos corredores e nas veias,
vem-me um desejo de voltar
a Portugal. Nunca lá estive,
é certo, como também
é certo meu coração, em dias tais,
ser um deserto.

(...)

Chegamos ao fim da vida
com dois ou três parentes
que restaram por inércia;
um amor sem pétalas,
guardado no livro de aventuras
que a imaginação viveu por nós;
e a esperança de que os frutos
desse amor alimentem os pardais,
nossos ancestrais de vôo curto
e cor de bolor.

Quero para mim outro destino.
Cantem o hino os que se aprazem
no chá das cinco, em companhia dos deuses.
Quanto a mim, sonharei com Portugal.
Quem sabe, numa dessas noites
amarelas, quando o sono
adormece e nos esquece,
um marinheiro bêbado me arraste
com ele para a grande messe
dos mares; ou desperte eu com a alma
nos lugares, metido na vida até os joelhos!

Não me importa qual porta se abra.
Quero ir a nado para o outro
lado de mim mesmo,
por um mar de perigos.
Uma nau é o que procuro;
uma nau para ganhar o mundo,
longe deste porto em que, seguro,
me vou ao fundo.

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