domingo, 10 de janeiro de 2010

O Profeta - Khalil Gibran.

E um eremita, que visitava a cidade uma vez por ano,
veio à frente e disse: Fala-nos do Prazer.
E ele respondeu, dizendo:
O prazer é uma canção de liberdade,
Mas não é a liberdade.
É o florescer dos vossos desejos,
Mas não é o seu fruto.
É uma profundeza que atinge uma altura,
Mas não é o profundo nem o alto.
É o que está na gaiola que alça seu vôo,
Mas não é o espaço contido.

Sim, em verdade, o prazer é uma canção
de liberdade.
E como gostaria que a cantásseis com todo o
vosso coração; mas não gostaria que perdêsseis
vossos corações na canção.

Alguns de vossos jovens buscam o prazer como
se ele fosse tudo, e são julgados e reprimidos.
Eu não os julgaria ou reprimiria.
Eu faria com que buscassem.
Pois eles encontrarão o prazer, mas não
apenas ele;
Sete são suas irmãs, e a mais insignificante
é mais bonita que o prazer.
Já não ouvistes falar do homem que escavava
em busca de raízes e encontrou um tesouro?

E alguns de vossos anciãos lembram-se dos
prazeres com arrependimento, como se fossem
erros cometidos durante a bebedeira.
Mas arrepender-se é obscurecer a mente,
e não torná-la casta.
Devem lembrar-se de seus prazeres com gratidão,
como da colheita de um verão.
Porém, se o arrependimento os conforta,
deixai que sejam confortados.

E há aqueles entre vós que não são jovens para
buscar, nem velhos para lembrar;
E, em seu medo de buscar e de lembrar-se,
evitam todos o prazeres, temendo negligenciar
o espírito ou ofendê-lo.
Mas mesmo evitar é seu prazer.
E assim eles também encontram um tesouro,
apesar de cavarem buscando raízes,
com suas mãos trêmulas.
Mas, falai-me, quem é aquele que pode
ofender o espírito?
O rouxinol ofende o silêncio da noite,
ou o vaga-lume, as estrelas?
E vossa chama ou vossa fumaça,
sobrecarregam o vento?
Achais vós que o espírito é um lago parado
que podeis perturbar com uma vara?
Muitas vezes, ao negar-vos prazer, o que fazeis
é guardar o desejo nos recessos do vosso ser.
Quem sabe se o que parece estar esquecido
hoje espera pelo amanhã?
Mesmo vosso corpo conhece sua herança,
e sua verdadeira necessidade e vontade
não serão enganadas.
E vossos corpos são a harpa de vossas almas,
E está em vós fazer com que sua música
seja doce ou que emita sons
confusos.

E agora perguntais em vossos corações:
"Como distinguiremos o que é bom no prazer
do que não é bom?
Ide aos vossos campos e aos vossos jardins,
e aprendereis que é o prazer da abelha
colher mel da flor,
Mas que também é o prazer da flor
dar mel à abelha.
Pois para a abelha, a flor é a fonte da vida,
E para a flor,
a abelha é o mensageiro do amor,
E para ambas, abelha e flor, o dar e o receber
do prazer são uma necessidade e
um êxtase.

Povo de Orfalese, sede, em seus prazeres,
como as flores e as abelhas.

(pgs. 89-93)

2 comentários:

Anônimo disse...

Obrigado, amigo! Essa postagem realmente me explicitou muita coisa. Dentro e fora, cima e baixo.

Bob

Cleber Borges de Aguiar disse...

Quais são as sete irmãs do prazer?