quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Alguns poemas de Mário Quintana.


Nos solenes banquetes

Nos solenes banquetes de próceres internacionais
- em especial sobre desarmamentos -
O aparte mais espontâneo
é o riso de prata de uma colherinha
Que por acaso tombou no chão!


(In Velório sem defunto, 1990)


Os psicanalistas, como o caso deles me preocupa.
Eles próprios sofrem de um dos mais terríveis complexos do mundo,
Que é o complexo dos complexos.
Ah, se a gente pudesse ter uma simples e amistosa conversa com eles,
Sem que descubram coisas por trás!
E se, por acaso,
Tombar um ovo choco no chão,
Por que hei de ser um maníaco homicida,
Um fabricante de anjinhos?!
Por que não vão eles inquirir sobre isso o próprio Acaso,
Que não sabe de nada...

 (In Velório sem defunto, 1990)


O nome e as coisas

Para que estragar a simples existência das coisas com nomes
arbitrários?
Um gato não sabe que se chama gato
E Deus não sabe que se chama Deus
("Eu sou quem sou" - diz Ele no livro do Gênesis)
Eu sonho é com uma linguagem composta unicamente de adjetivos
Como deve ser a linguagem das plantas e dos animais!
Só de adjetivos, sem explicação alguma,
Mas com muito mais poesia...
 

(In Velório sem defunto, 1990)

III. Do Estilo

Fere de leve a frase... E esquece... Nada
Convém que se repita...
Só em linguagem amorosa agrada
A mesma coisa cem mil vezes dita.

(In Espelho Mágico, 1945)


O espectador

Olhar a televisão
Sem prestar atenção,
Ver apenas figuras a moverem-se na tela
E só assim talvez terei alguma compreensão
Da nossa vida e do sentido dela...

(In Velório sem defunto, 1990)

Um comentário:

Luciana Cavalcanti disse...

Adoro o Quintana, como adoro também a ti, meu amigo poeta!!! Saudades! Mas minha Vida pós-acidente é bem cansativa... Abraços em ti!!!