sábado, 20 de março de 2010

Pitangas na Biblioteca - Alberto da Cunha Melo.

A Carlos Alberto de Azevedo

Tem a cabeça na almofada
e o livro nas mãos (vai deixá-lo).
Daqui a pouco voltará
à Grande Estante, ali tão perto.

Como se isso fosse possível,
vai devolver o fruto à árvore,
por ser difícil devorá-lo
comodamente, no sofá.

Os volumes de cascas grossas
e de almas volumosas, não;
que é preciso subir na escada
alta e magra, para alcançá-los.

E retira da prateleira
(mais baixa) o mais frouxo exemplar,
como quem tira uma pitanga
que se pode colher com a boca.

Volta a repousar a cabeça
na almofada cheia de brisa,
para ruminar o miolo
do zero, o miolo do nada

Nenhum comentário: