terça-feira, 10 de maio de 2011

Ácido na corrente elétrica - Parte V



                   24/05/01 – 22 h 16 min. – Acabei de conversar com Rosivaldo por telefone, eu acho que ele foi ao ponto crucial dessas minhas idas e vindas com Cristo: falta de amor próprio. Porque o pecado faz mal ao homem, pode trazer um prazer transitório, mas faz mal ao espírito. Se eu tivesse amor próprio não faria mal a mim mesmo.
                   24/05/01 – Dia 13/05/2001 foi o último dia que eu bebi. Quero deixar registrado.
                   05/06/01 – Gosto de tomar café e de contemplar no final de tarde uma árvore imensa em frente a uma lanchonete perto do trabalho. Tô ficando viciado em café, tomo de manhã e à tarde, todo dia.
                   08/06/01 – Haveria coisa alguma difícil ao Senhor? (Gênesis 18:14) “não cessamos de orar por vós, e de pedir que transbordeis de pleno conhecimento da sua vontade, em toda a sabedoria e entendimento espiritual”; (Colossenses 1:9). Não tem nada que dê mais prazer a um Filho de Deus que fazer a vontade d’Ele. Nada, nada.
                   13/06/01 – Speak to me: Pink Floyd. Lembrando-me agora da viagem que eu fiz pra Lençóis em 93, quando eu já tinha passado Feira de Santana, parei num posto de gasolina pra perguntar como fazia pra chegar a Lençóis, o bombeiro me explicou e eu já ia saindo quando ele perguntou se dava pra dar uma carona a dois matutos, eu disse que tudo bem, mas adverti aos dois que eu corria um pouquinho, eles disseram que não tinha problema. Um se chamava Benedito, o outro Segredo. Pé na estrada. 180 Km/h. Benedito só faltava se quebrar de tão tenso que tava, segurando com as duas mãos no assento, as pernas esticadas e só fazia olhar pro velocímetro.
                   Paramos num posto para reabastecer, Benedito não agüentou e falou pro bombeiro: “Esse home é doido! Vinha correndo a 180 Km/h descendo uma ladeira, inda achou pouco e ficou incaicando o pé no acelerador pra ver se corria mais, tinha uma ponte no final da ladeira e um corregozinho, e aí eu pensei: É agora que a gente vai pescar peixe no céu, minha virgem santíssima!”.
                   Benedito era uma onda. Depois do posto eu dei uma aliviada. Tinha umas 4 garrafas de um vinho branco português maravilhoso, chamado Grandjó. Bebemos as 4. A certa altura a gente parou na beira da estrada pra curtir o visual, e aí eu perguntei pra Benedito: Benedito, diga aí, se alguém encostar aqui na gente, como é que é? Benedito respondeu: O quê? Eu estraçaio ele com os dente!
                   14/06/01 – Acabei de ler uma reportagem na Veja com Robert Ballard o descobridor dos destroços do Titanic, em que ele conta além das suas descobertas pelos oceanos, uma experiência muito dura que teve: perdeu o filho adolescente num acidente automobilístico. Ele diz: ”Foi uma perda trágica, mas tudo pode ser enriquecedor quando se consegue encontrar a mensagem que está por trás dos acontecimentos”, isso é muito forte!
                   16/06/01 – Sábado – 21 h 28 min – “Açaí – Djavan” – Eu não tenho jeito não, eu sei que não deveria nem estar dizendo esta frase, que já traz uma carga negativa muito grande, mas aqui estou eu na frente do computador, bebendo novamente...Um vinho tinto argentino, muito bom, com presunto tenro da perdigão. Daqui a pouco vou dar uma saída pro Bairro do Recife Antigo vender uns livros. Lúcia não demonstra, mas eu acho que ela deve estar puta da vida. Eu acho que vou parar de recriminações e viver toda a minha loucura, sem rédeas, sem parâmetros, sem estribeiras, desbragadamente como a vida, sem culpa. E quem quiser que me acompanhe, mulher, filho, gato, cachorro. Quem não quiser fique, vou me exercer, vou me exercer, VOU ME EXERCER, VOOOUUU ME EXEEERCEEERRRR!!!!!!!!
                   22/02/01 – Shine on your crazy diamond – Brilhe no seu doido diamante – Pink Floyd.
                   Tô tomando um vinho enrustido aqui na garagem com Biel, meu filho, a gente tá combinando nas férias ir um dia pra Sarico, no caminho pra Calhetas, cimpripalpemente o Bar de Sarico é a nossa meta, é a nossa meta!
                   Você pensou que eu errei no parágrafo anterior, eu não errei não, é cimpripalmente mesmo.
                   18/06/01 – O que mais há pra ser dito? Tô perdido nessa guerra, acho que vou passar de uma vez por todas pro lado da carne, sem culpa, sem nóia. Como é que será o inferno? Será que Deus é tão ruim a ponto de condenar alguém pra toda uma eternidade de sofrimento, apenas por uns pecadinhos menores? Será que existe pecado maior e menor? E por que Lúcifer, sendo um anjo de luz do mais alto escalão, não teve uma segunda chance? O que é que Jesus foi fazer no inferno quando morreu? Sim, Jesus desceu ao Hades quando morreu, porque os pecados de toda a humanidade estavam sobre Ele. Será que Ele foi pregar no inferno? Libertar almas? Por que tantas perguntas sem respostas?
                   22/06/01 – Encontrei com meu amigo Maurício Silva, artista plástico, hoje, nesse feriado de São João e aniversário de Lú. Tomei uma cervejinha com ele e nos lembramos da nossa adolescência, quando colocamos num cartaz da prefeitura na Av. Mário Melo, em 1978, várias poesias, entre as quais duas minhas: “O meu pente é inimigo do meu cabelo e este conflito me leva ao apocalipse...” e “O que é que meu pé tem a ver com minha mãe”
                   23/06/01 – Escutando o novo CD de Geraldo Maia, meu primo, “Astrolábio”. Tá muito bom! Tá bom todo!
                   O cursor piscando, olhando pra mim, olhando pra mim, e perguntando: Cadê? Num escreve não?...O cursor olhando...
                   Cadê você Carlinhos, cadê você? Acorda! Onde estão teus sonhos? Cadê teus sonhos, Carlinhos? Enredado em concursos, emprego medíocre, quer dizer o emprego é até legal, o salário é que é mixuruca. Vou em busca dos meus sonhos, vou fazer um planejamento, poupar um pouco todo mês...
                   16/07/01 – Passei o dia hoje com meu amigo Miró da Muribeca. Foi muito bom, ele chegou há pouco mais de uma semana de São Paulo, onde ficou um ano e um mês, ralando muito por lá.
                   10/08/01 – Pela primeira vez saí sem relógio na noite. Senti aquela sensação de “sem compromisso” da adolescência invadindo meu peito, quando detestava o uso de relógio e a liberdade pulsava plena no meu coração.
                   17/08/01 – 21:54 hs. – Tomando um vinhozinho e escutando Bob Marley. Que vinho maravilhoso, Viña de Tarapacá, Merlot, chileno, uma delícia. Estou tomando-o com copa, queijo gorgonzola, tomate seco, salame e queijo provolone. Estou no céu...
                   24/08/01 – Dois dias de ressaca, mas não foi por causa da birita do dia 17 e sim pela do dia 22, cerveja, no bar Royal(Recife antigo) com Ernesto. Tô ficando velho.
                   Semana passada quando fui pegar os vales-transportes na Cael, no Jiquiá, estava um dia de um azul estonteante e no caminho, eu andando, tinha um pé de fruta-pão quase desfolhado, com uns galhos pretos retorcidos fazendo um contraste belíssimo com o céu azul; parei e fiquei olhando. De repente pára uma senhora ao meu lado e fica curiosa pra saber o que é que eu estou olhando, como não viu absolutamente nada de extraordinário, me perguntou: “Tá vendo São Jorge?”.
                   29/08/01 – 23:27 hs – Voltando do lançamento do novo CD de meu primo Geraldo Maia, no Pátio de São Pedro, chamei na surdina meu filho Biel, que já estava dormindo e tinha vindo na frente com Lúcia, pra tomar um vinho comigo. Miolo Seleção, que vinho do caralho!
                   Biel subiu pra pegar Ginsberg, vamos reler América e outros poemas...
                   Isso é sinistro! Isso é sinistro!!!!
                   31/08/01 – 21:57 hs – Sexta-feira – Côtes du Rhône(1999) – Que vinho francês do pentelho! Maravilhoso!!!! Daqui a pouco vou pro Recife Antigo vender uns livros. Esse é um dos melhores vinhos que eu já tomei na minha vida!
                   A Vida, a Vida, a Vida!!! A Vida é maravilhosa, os amigos, as flores, as paisagens idílicas, o mar, o céu, o sexo, a transcedência, a mulher, os filhos, os livros, a mãe, os irmãos, a Terra com sua incomensurável beleza, e chegou o meu grande amigo Jorge Sotero(Dody), porra, acabou o vinho, acho que Dody vai embora  atrás de Edileusa(cocaína). 
                   02/09/01 – 19h 40min - Quarta-feira – Jogo do Brasil X Argentina. A cidade está um engarrafamento só. Tenho que tomar cuidado pra não me envolver com essa neura. Ando mais devagar, assobio, faço de conta que não é comigo...
                   14/09/01 – 4 h 23 min – Estou no abismo. Sinto minha alma sendo tragada para as profundezas do inferno, não tenho mais controle dos meus atos. A carne domina plena. Misericórdia Senhor, misericórdia, vem com o teu socorro... Endireita as minhas veredas tortuosas...Sê meu abrigo...
                   19/10/01 – 23 h 32 min – Acabei de dar uma cacetada boa danada com Lú, há três dias que a gente vinha brigando, nos reconciliamos hoje, nosso caso tá parecendo com aquela música: “Se de dia a gente briga, de noite a gente se ama, nossas diferenças acabam no quarto, em cima da cama”. Eu acho que quando Lú ler este livro vai detestar isso que acabei de dizer. Estou escutando Pink Floyd – “Time”, esse som nunca fica velho, é muito bom, e a garotada hoje em dia adora, eu escutava na minha adolescência; um som com mais de vinte anos que continua atual. Que solo da porra, velho...
                   Já é dia 20, 0h 43 min, e eu insone, acho que vou dar uma manerada no café, principalmente à noite, vou cortar.
                   Que Saudade de Lençóis...Quero ver se nas minhas férias do ano que vem eu passo uns dez dias lá com Lúcia e os meninos, espero que eles me liberem em Julho, quando os meninos também estarão de férias na escola e o Raio Solar estará entrando com toda sua plenitude banhando de azul o Poço Encantado.
                   01 h 08 min, vou pro Recife Antigo, Rua da Moeda, Gabriel está lá, não estou com o mínimo sono e não quero ficar em casa sem fazer nada, hoje às 08 h vou pro Veneza Water Park com Lucas, zero bronca, vou direto do Recife Antigo pra lá.
                   .22/10/01 – Segunda-feira, ligo para dody  sotero, marcamos para nos encontrar  no  centenário e porra  dody está demorando pra caralho, vou embora ele está acabando de ligar,  porra e a cobrar, eu não  vou atender o cara é fila da puta mesmo só liga  a  cobrar.
                   26/10/01 – 01 h 46 min – Tomando uma Miller com meu filho Biel, ou pra ser mais exato 12 Miller’s com meu filho Biel. (Lembrando que quando eu cheguei Biel tava tocando Violão no seu quarto.) Doido, doido, doido, completamente alucinado, alcoólatra, desfigurado, preso às amarras da noite, louco, desfigurado...
                   Iaeeeeeeeeee...Eu sou Biel, eu só estou escrevendo pra dá um alô mesmo, sabe como é, né? Painho insistiu!!! Diga aí existe pai mais louco que este, einh??????
                   03 h 14 min – Beto Guedes – A página do Relâmpago Elétrico. Só...
                   31/10/01 – 0 h 11 min – Tô ficando com os pés inchados de tanta birita, vou dar um tempo. Juro que vou dar um tempo!
                   “E basta contar com o passo, e basta contar consigo, que a chama não tem pavio...” (Clube da Esquina nº 2 – Lô Borges).

                   Uma poesia minha recente:

                   Poeta, poeta, onde estão indo
       dar os teus caminhos?
       Aonde deixastes o prumo, a régua, o passo?
       Poeta, poeta, que ânsia de vida é essa?
       Que poço insondável é esse que consome o teu coração?
       Risca uma nova porta, traça uma nova estrada,
       Soergue o prumo das entranhas da terra,
       Retoma a tua vida!
       Enfrenta o minotauro nos labirintos do teu coração!

                   “Se já nem sei o meu nome, se eu já não sei parar, viajar é mais, eu vejo mais a rua...” (Manuel, o audaz – Lô Borges)
                   01/11/01 – 02 h 49 min – “E aceita que não importa quão boa seja uma pessoa, ela vai feri-lo de vez em quando e você precisa perdoá-la por isso”.(William Shakespeare)
                   07/11/01 – 23 h 11 min – Não posso deixar passar em branco esses dias, estou no meio do furacão, no entanto com a lucidez do suicida e com a mente acurada do louco.
                   Estive hoje com Dra. Valéria, retomei minha terapia, também almocei com o pastor da minha igreja, Rosivaldo, ele é um cara muito legal, apesar disso tudo tomei três cervejinhas quando saí da terapia.
                   02/12/01 – Fiz a maior merda ontem, cheguei bebo 07 e meia da manhã, fui à cozinha e urinei na cadeira na frente do meu filho Lucas de 08 anos e de Lúcia.
                   10/12/01 – Lúcia tá querendo o divórcio, pedi a ela um tempo de um mês.
                   18/01/02 – 2 h 09 min – CIBERDSCARDSCROOOW, YPSELECARÁ, YEMARÁÁÁÁÁÁÁÁÁ...
                   26/01/02 – Último dia em que bebi.
                   27/06/02 – Relendo Mário Sá Carneiro, “Todos os poemas”, livro que li pela 1a vez em 79, agora a procura daquele poema que teve tanto significado para mim e que eu não consigo encontrá-lo, será que eu não sou a mesma pessoa? Meu Deus, me deu uma angústia agora, não achar o poema... O livro é o mesmo! Fui eu que mudei...
                   Cinco meses sem beber e graças a Deus não tenho sentido a mínima vontade, eu e Lúcia estamos ótimos. Estou fazendo 200 marinheiros por dia no banheiro do meu trabalho, é um corredor de 1,0 m de largura por 5,0 m de comprimento, no fundo fica a bacia sanitária, é bem limpinho, faço 08 séries de 25, estou me sentindo bem melhor.
                   Julho de 79 – Inverno em Gaibú, fartura de cogumelo, um domingo de sol neste mês de Julho, um dia límpido, céu de brigadeiro, eu muito doido de cogumelo subindo as pedras escutando Vila do Sossego de Zé Ramalho, quando chego lá em cima e descortino aquela vista paradisíaca, as grandes ondas de Gaibú quebrando e deixando uma névoa flutuando no ar, a relva bem verdinha, me senti como Adão no primeiro dia da criação vendo o mundo pela primeira vez. Este planeta em que vivemos é muito lindo. O mar de um azul cristalino, com suas ondas quebrando e deixando uma névoa de indizível paz. O céu, o mar, o verde vivo das plantas saciadas de água, a brisa suave da manhã acariciando meus cabelos. Foi o momento mais belo em toda a minha vida.
                   31/07/02 – O que atrapalha o homem é o ser.

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