quarta-feira, 7 de julho de 2010

Terra dos Homens - Saint-Exupéry

Mais coisas sobre nós mesmos nos ensina a terra
que todos os livros.
Porque nos oferece resistência.
Ao se medir com um obstáculo o homem aprende
a se conhecer; para superá-lo, entretanto,
ele precisa de ferramenta.
Uma plaina, uma charrua.
O camponês, em sua labuta, vai arrancando
lentamente alguns segredos à natureza;
e a verdade que ele obtém é universal.
Assim o avião, ferramenta das linhas aéreas,
envolve o homem em todos os velhos problemas.
Trago sempre nos olhos a imagem
de minha primeira noite de vôo,
na Argentina - uma noite escura onde
apenas cintilavam, como estrelas,
pequenas luzes perdidas na planície.
Cada uma dessas luzes marcava,
no oceano da escuridão,
o milagre de uma consciência.
Sob aquele teto alguém lia, ou meditava,
ou fazia confidências.
Naquela outra casa alguém sondava o espaço
ou se consumia em cálculos
sobre a nebulosa de Andrômeda.
Mais além seria, talvez, a hora do amor.
De longe em longe brilhavam esses
fogos no campo,
como que pedindo sustento.
Até os mais discretos: o do poeta,
o do professor, o do carpinteiro.
Mas entre essas estrelas vivas,
tantas janelas fechadas,
tantas estrelas extintas,
tantos homens adormecidos...
É preciso a gente tentar se reunir.
É preciso a gente fazer um esforço para
se comunicar com algumas dessas luzes
que brilham, de longe em longe,
ao longo da planura.

(pg. 02)

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